[Campanha Bones] Ordem de Serviço Número 1

Valkaria estava em festa naquele dia. Apesar de seu "prefeito" estar desaparecido, hoje comemorava-se o aniversário do descobrimento e fundação da ilha voadora por Victor Trumm - e companhia- , há alguns anos atrás. 

Como a comemoração é da cidade, apenas, os comerciantes estavam usando suas lojas como barracas de comida, bebida e brincadeiras. 

Apenas uma loja estava aberta e funcionando normalmente. 

Yuuko estava vestida com um kimono negro, com desenhos em dourado. Parecia uma roupa digna de realeza. Seu cabelo também estava preso em tranças e adornado com jóias e pingentes. 

Estava em pé no jardim, enquanto uma criatura que se parecia um coelho estava desenhando algo na grama com pó de giz. 

E neste mesmo momento, sua visita chegava.

Seu retorno para Valkaria estava mais tranquilo, sem a pressa de antes, agora com tudo fluindo e Nazarick crescendo mais a cada dia. Sua busca ali era justamente quanto a Yuuko, por mais que a cidade pudesse oferecer coisas interessantes, ela é quem possuia o tipo de coisa que ele buscava então não perderia tempo olhando os outros lugares.

A cidade em si estava em festa pelo aniversário de sua fundação, justamente por aquele espirito velho que havia ajudado. Se tivesse tempo e disposição, até poderia aproveitar um pouco, contudo não tinha como comer e beber, então dispensaria as comemorações...

Chegando a loja da mulher misteriosa, ela estava vestida condizente com o clima da cidade, uma ocasião especial, parecia estar brincando com um coelho, mas se tratando dela, não duvidava de nada... Resolveu então se aproximar com um clima mais ameno e educado, num tom cortês.

- Bom dia, senhorita Yuuko. Belo vestido. Com a celebração ocorrendo, acho que dei sorte de encontra-la aqui, mas algo me diz que já me esperava hehe A loja esta aberta para negócios?

Yuuko sorriu quando Bones aceitou o convite e fez sinal para que o seguisse, e ambos entraram no círculo. 

A bruxa das dimensões gesticulou com a mão e chamas azuis começaram a passar pelos desenhos na grama. Não havia calor, nem fumaça.
Quando todos os riscos do chão foram cobertos por chamas, Yuuko juntou as mãos e fechou os olhos. O céu acima de suas cabeças girou e, se Bones não fosse desprovido de labirinto, teria caído desequilibrado no chão. 

Quando a mulher abriu os olhos novamente, o ambiente parou de girar e estavam em outro lugar. A seus pés, Bones podia ver, ainda, o desenho de giz, que agora era preto, mas não havia grama, apenas um piso duro de pedra. 

Era um quarto, isso era evidente, pois havia uma cama a um lado. O quarto todo era feito em pedra branca e adornado de maneira simples. Um estandarte tinha um emblema desconhecido de Bones e a janela dava para uma vista belíssima. Era uma cidade imponente, ao pé de uma enorme montanha com pico gelado. 

Yuuko se dirigiu a Bones mais uma vez, olhando o mago com uma expressão divertida.
- Este feitiço acabou tendo alguns efeitos muito interessantes. 

Um enorme espelho oval a um lado do quarto mostrou a Bones do que ela estava falando. 
Bones tinha um corpo. Era jovem, mas tinha a pele acinzentada, os cabelos prateados e os olhos negros. 

A parte disso, estava pelado. 
- Muito interessante, realmente. Tem um guarda-roupas ali do lado. Logo logo alguém vai vir te acordar, Ainz. Hoje é um dia mais ou menos importante, então escolha uma roupa de acordo. - Ao contrário de Bones, Yuuko estava transparente.

Seu guarda-roupas tinha uma imensidão de roupas formais, das mais variadas cores, com bordados e detalhes em linhas metálicas luxuosas. Em contrapartida, havia uma parte só com roupas de treino, roupas leves e roupas simples. 
- Com certeza, é uma celebração. - foi a resposta de Yuuko, divertindo-se com o entusiasmo de Bones. Afinal, ele era um adolescente ali, agora. Era somente esperado que se entusiasmasse tanto. - Creio que não vá se incomodar se eu for pegar minhas plantas enquanto você se diverte. Prometo te buscar quando acabar, se é que vai querer vir comigo.

Bones optou por uma que era sua favorita. Uma simples camisa branca, por baixo de um grosso casaco preto, com fechos e detalhes em vermelho vivo. Os botões ficavam na lateral de seu torso, e as calças eram igualmente adornadas com desenhos de dragões nas laterais. Um par de sapatos pretos concluía a vestimenta. 

Logo ao lado do guarda-roupas, reconheceu sua arma predileta, forjada especialmente para si. Antes que pudesse pegá-la, dois braços deslizaram por baixo de suas axilas, prendendo-o em um agarrão. Uma voz conhecida falou em seu ouvido. 
- Você está atrasado, Ainz! Só você consegue se atrasar para a cerimônia do seu aniversário! Sabe o quanto de merda que tive que ouvir da Lux??? Ela está uma fera com você, e você merece cada segundo de punição... 

Trevor, seu irmão mais velho, estava logo atrás, tentando derrubá-lo no chão. Trevor era mais alto, mas também era mais magro. Tinha longos cabelos negros presos em uma trança, olhos prateados e uma pele pra lá de branca. Como contraste de tudo isso, suas vezes eram cinzas, igualmente formais, mas com uma longa casaca que cobria até seus tornozelos, com uma fenda para exibir suas brancas calças.

Trevor o largava, rindo demais. Seu rosto era fino, parecia mais uma serpente do que qualquer coisa, mas com certeza tinha beleza. 
- Você está louco? Se fosse de qualquer outro, até poderíamos fugir... mas é o CAÇULA de Armat que vai alcançar a maioridade. - Ajeitando a gola da roupa e se fitando no espelho do irmão, emendou sussurrando. - Assim que disserem "Ainz é considerado adulto e pode fazer o que quiser", AI SIM... vamos para a taverna. As fêmeas que fiquem curtindo os vestidos e as pompas. As fêmeas E IGNIS. Se bem que... nosso pai não poupou despesas nas bebidas... você sabe como o velho gosta de um goró, talvez seja mais interessante aproveitar por aqui. 

O mais velho dos irmãos, Trevor, era alto, esguio e o manipulador das sombras e das trevas. Juntamente com sua gêmea, Lux, eram os mais fortes, inegavelmente, mas também os mais sábios - Lux, com certeza, mas Trevor não demonstrava isso com tanta frequência. 

Ainda com os humores altos, após pegar sua foice, Trevor foi conduzindo Ainz até a porta, com tapinhas nos ombros como quem diz "para a cadeira elétrica, vamos agora". 

O corredor daquela morada era alto, com janelas decoradas em vitrais belíssimos, contando a trajetória dos dragões ancestrais até ali. O quarto de Ainz era apenas mais um entre muitos. Nenhum estaria ocupado, pois todos estavam no salão, aguardando. 

Ao final do corredor duas grandes portas estavam abertas. A mãe dos dois estava vestida com um vestido dourado, belíssimo. Bones não pode deixar de sentir um aperto na garganta por saber que aquela criatura que o amava tanto estava agora perdida no esquecimento. Os olhos de Luria eram um verde e um azul, intensos. Seus cabelos loiros estavam presos em uma trança embutida, ornada com jóias. Luria era um dragão de ouro então sua vestimenta não poderia ser diferente. Apesar disso, em sua cintura trazia uma adaga igualmente dourada. Dragões eram uma raça de guerreiros e magos. Ninguém ali andava desarmado.

Assim que os dois chegaram, Luria parou de dar instruções a uma funcionária e fitava Ainz com puro amor nos olhos. Abraçando-o, falou em seu ouvido, a voz mais doce que Ainz jamais ouviria novamente quando voltasse a ser Bones. 
- Meu querido, Ainz. Parabéns. Hoje é seu dia, aproveite. - Beliscando Ainz de leve na barriga, emendou baixinho - Com moderação... Aproveite com moderação... Se vocês perdem as estribeiras, seu pai fica impossível. 

- Falando nisso, onde está o velho? - perguntou Trevor, com as mãos nos bolsos.
- Ah.... onde mais? Com o conselho dele. Já disse que não vão resolver nada hoje. Discutem a mesma coisa há semanas, mas HOJE, no aniversário do CAÇULA dele, eles vão ter uma brilhante idéia. Cansei. Vou curtir meus filhos e filhas. - disse, ajeitando a gola de Ainz e de Trevor e voltando a dar ordens aos funcionários. 

O salão era grande e amplo, do mesmo tamanho da sala do trono de Nazarick, inclusive com certas similaridades. Os tronos estavam ao final do salão. 

Uma enorme mesa estava sendo disposta bem ao meio. Era tradicional convidar os nobres mais próximos e influentes para a celebração no castelo, enquanto que a população geral comemorava nas ruas e nas tavernas. O estandarte real tremulava nos altos pilares e o sol trazia as cores dos vitrais para dentro do salão. Os funcionários corriam para lá e para cá com vasos, pratos, pratarias e tecidos. 

- Aí estão vocês. - falou uma voz séria e feminina logo atrás deles. 

Aquela era Lux, irmã gêmea de Trevor. Eram uma visão única, pois tinham os mesmos traços físicos, mas os cabelos de Lux eram de um loiro quase branco, seus olhos cor prateada e sua pele morena. Seus cabelos eram lisos e iam até os tornozelos, lisos. Usava uma roupa semelhante à de Trevor, mas era negra como a noite. Lux representava a luz, a cura, a verdade, então sua personalidade não poderia ser diferente. 
- Sabe, Ainz, eu esperava um pouco mais de decoro de sua parte. Não vamos ter tempo de ensaiar nada. Os convidados já chegaram. Eu podia esperar isso de Trevor, mas não de você. - Suas palavras eram calmas, tranquilas, mas severas.
- Aaaah Lux... Páre de ser chata, sim. É aniversário do rapaz. O que ele vai ensaiar? A como ficar quieto enquanto espera esse aborrecimento todo passar para podermos encher a cara e dar porrada uns nos outros?
- Sabe como papai vai no embalo. Se começarem a beber e brigar, ele vai destruir o salão... de novo! - reclamou a irmã.

- Você está louco? Se fosse de qualquer outro, até poderíamos fugir... mas é o CAÇULA de Armat que vai alcançar a maioridade.- Assim que disserem "Ainz é considerado adulto e pode fazer o que quiser", AI SIM... vamos para a taverna. As fêmeas que fiquem curtindo os vestidos e as pompas. As fêmeas E IGNIS. Se bem que... nosso pai não poupou despesas nas bebidas... você sabe como o velho gosta de um goró, talvez seja mais interessante aproveitar por aqui. 

- Hmmm agora me deu um excelente motivo para me apressar! hehehe

Seguindo pelo caminho, não deixou de ficar espantado pela construção e beleza dela. Talvez fosse por novamente estar vivo e seus sentimentos bruscamente de volta que estava mais sensível, mas realmente achava lindos o local, não era atoa que serviu de inspiração para Nazarick, tentando recriar dentro do possível...

Ao fitar sua mãe, teve que se segurar, seus olhos ameaçaram se encher mas respirou fundo e tentou disfarçar conforme ela se aproximasse. Aquele sentimento puro era algo que esperava que tivesse sobrevivido por mais de dois mil anos, isso se ela ainda estivesse viva... Será que ela ainda se lembraria dele?

- Meu querido, Ainz. Parabéns. Hoje é seu dia, aproveite. - Com moderação... Aproveite com moderação... Se vocês perdem as estribeiras, seu pai fica impossível. 
- Falando nisso, onde está o velho? 
- Ah.... onde mais? Com o conselho dele. Já disse que não vão resolver nada hoje. Discutem a mesma coisa há semanas, mas HOJE, no aniversário do CAÇULA dele, eles vão ter uma brilhante idéia. Cansei. Vou curtir meus filhos e filhas.

- Então acho que vou aproveitar que não esta por aqui, sabe... hehehe

Disse ele em tom de ameaça de brincadeira, levando uma nova bronca em seguida. O salão pelo menos ele havia replicado quase que fielmente, se não fosse pela falta dos vitrais que ali tinham, que davam um ar mais claro e vivo ao ambiente. Por falar em clareza, eis que ouviu a voz familiar.

- Sabe, Ainz, eu esperava um pouco mais de decoro de sua parte. Não vamos ter tempo de ensaiar nada. Os convidados já chegaram. Eu podia esperar isso de Trevor, mas não de você. 
- Aaaah Lux... Páre de ser chata, sim. É aniversário do rapaz. O que ele vai ensaiar? A como ficar quieto enquanto espera esse aborrecimento todo passar para podermos encher a cara e dar porrada uns nos outros?
- Sabe como papai vai no embalo. Se começarem a beber e brigar, ele vai destruir o salão... de novo! 

- Não fazer besteira, não falar besteira, ficar parado em silencio e falar respeitosamente quando for a hora certa. Ensaiei certo? Ah, por sinal, acho que uma reforma poderia mudar um pouco os vitrais ali e ficaria legal um espelho d'água... hehehe

Disse ele, continuando a linha de pensamento do Irmão, tentando diminuir a preocupação da irmã.

Estava feliz. Ele realmente tinha sido feliz, estava em um local bem quisto, mesmo que fosse um manipulador da vida/morte, não sendo perseguido, caçado ou torturado. Poderia simplesmente existir e ainda assim teriam aqueles que o queriam bem e com sentimentos profundos. Realmente as palavras de Yuuko eram perigosas, pois não reclamaria caso fosse deixado ali...

Lux olhou para Ainz repreendendo-o com o olhar, mas nada falou. Apesar da diferença de idade entre eles, os três tinham mais em comum do que o restante. 

Falando no diabo, todos os outros irmãos começavam a se juntar à festa. 

Cumprimentaram Ainz de longe, dando sorrisos e abanando as mãos, alguns cumprimentaram mais de perto.

Gaia era a manipuladora da terra e de plantas, e mais velha da trupe após os gêmeos. Tinha um porte robusto e uma beleza selvagem. Sua pele era da cor das cascas das árvores e seus cabelos e olhos eram verde folha - mas mudavam de acordo com a estação do ano. Ela usava um vestido agarrado e, dado suas proporções fartas, atraía muito mais atenção do que imaginava. Era muito ponderada, paciente e doce, herdara tudo isso da mãe. Trazia seu bastão às costas.

Ignis, o irmão do fogo, vinha em seguida. Seus cabelos vermelhos esvoaçantes e bagunçados pareciam chamas mesmo, bem como seus olhos vermelhos como brasa. Usava roupas de um laranja forte e sua cimitarra na cintura. Olhou Ainz com mau humor. Os dois tinham temperamentos bem similares, mas opiniões completamente opostas... e costumavam sair no braço várias vezes. Herdara o gênio briguento do pai.

Gladis estava mais uma vez deslumbrante. A decendente do gelo e da água sempre usava roupas extravagantes, para combinar com sua aparência. Tinha pele de porcelana, cabelos azul claro, longos e sedosos, e olhos azuis intensos. Seu humor era sarcástico, muitas vezes rude, mas tinha bom coração. Sua cintura era rodeada de adagas belíssimas e afiadíssimas, como sua língua.

Nebula, como sempre, usava uma roupa do mais simples possível - para desespero de sua mãe e suas irmãs. Uma camisa branca, calça marrom, botas amarradas até o joelho. Sendo a controladora dos ventos e do tempo em geral, tinha uma personalidade do mais neutra possível. Usava os cabelos brancos raspados nas laterais, mas tinha uma crina vasta que se estendia até a cintura. Seus olhos acinzentados estavam sempre como se tivesse dormido pouco, e sua postura era da mais despreocupada possível. Seu chicote vinha enrolado na cintura. Nebula era a mais baixinha da turma, muitas vezes passando despercebida em várias situações.

Fulgor chegou por trás de Ainz e Trevor, batendo nos dois e já meio bêbado. Era o mais novo, antes de Ainz, e por isso o mais travesso, bocudo, serelepe, irresponsável e imprudente que alguém pode ser. Estava com roupas que não combinavam nada entre si, com um enorme arco preso às costas. Era o mais rápido dos irmãos. Tinha os cabelos prateados e espetados para cima, olhos negros como a noite, e pele num tom queimado. 

Trevor e Lux acompanharam Ainz até a mesa quando o salão encheu. Todos os filhos e a rainha estavam sentados. Os convidados foram se acomodando e, finalmente, o rei Armat chegava. 

Era um homem largo e forte, com cabelos longos de uma cor castanha avermelhada. Mechas prateadas adornavam suas têmporas. Seus olhos eram de um violeta claro, tinha a barba bem feita e uma expressão dura no rosto. Apesar disso, os filhos sabiam que adorava uma briga, uma bebida e enlouquecer a esposa. Seu traje era uma armadura dourada, com uma pele felpuda e branca ao lado do corpo. Quando entrou, todos se levantaram e fizeram uma mesura. 

Armat andou até seu lugar, beijou a mão da esposa demoradamente e piscou para Ainz. 

Logo o sacerdote Ziri entrou. Era um ancião encurvado que fez sinal para que Ainz se apresentasse ao centro do salão. Com o caçula ali, exposto - Trevor e Fulgor estavam tentando fazê-lo rir - Ziri começou a cerimônia.

- Hoje, Ainz Ool Gown, filho caçula de Armat Ool Gown, terceiro de sua linhagem, e Luria Ool Gown, chega à maioridade. A grande nação dracônica reconhece este jovem e o aceita como cidadão efetivo, tendo todos os direitos e deveres militares, políticos e sociais garantidos em nossa lei. 

O sacerdote ainda falou tanto - sobre responsabilidades, quem fez a primeira cerimônia e quem foram os dragões ancestrais -  que Ainz nem estava prestando mais atenção. Agora eram Trevor, Fulgor, Gaia e Gladis que faziam comentários e apontavam, tentando fazer com que Ainz risse ou algo assim. Nebula estava encarando o teto. Lux estava tentando reprimir os irmãos sem fazer barulho. Ignis não poderia estar mais entediado. Já Armat e Luria estavam apenas observando seu caçula, ignorando os filhos que bem conheciam. 

Quando o ancião finalmente terminou o falatório, todos ergueram suas taças e saudaram Ainz com um brinde, ao que logo em seguida Fulgor gritou:
- FESTAAA!!!!!! - Luria e Lux levaram as mãos à cabeça, mas Armat também se levantou e foi levar uma caneca a Ainz, abraçando seu filho e incitando-o a encher a cara. 

- Meu filhote! HAHAHAHAHHA Vai precisar de bastante bebida mais tarde. - Ainz tinha acompanhado outras seis cerimônias para saber que a transformação viria à noite, e que aquilo tudo era mera formalidade. Seu pai continuava abraçando seu filho pelos ombros, e juntos, obviamente, ficaram bêbados e destruíram o salão. 

A festa no castelo ainda durou o dia todo, mas Trevor, Fulgor, Armat e Ainz decidiram sair ao fim da tarde e continuar a festa na colina, a qual todos usavam para o próposito descrito a seguir. 

Trevor e Fulgor estavam vendo tirando uma queda de corpo inteiro, enquanto Armat explicava para Ainz. 
- Vai ser assim, filho. Quando o sol se por completamente, você já vai conseguir sentir algo diferente. Não lute contra, até porque você não pode. Vai ser como ... como

- Como um arroto. Vem lá de baixo!!

- Obrigado, Fulgor. Eu estava procurando palavras mais nobres, mas sim. Vai ser tipo isso... e, quando menos esperar, você vai ter conseguido. Só feche os olhos e tente... TENTE - falou mais alto Armat, pois Trevor e Fulgor estavam impossíveis. - se concentrar em você e nada mais.  

Era incontrolável. Todos os irmãos e irmãs haviam feito o mesmo. A revoada por sobre a cidade, o urro lá de cima, a contemplação do reino no qual vivia e o qual governava com sua família. 

Lá do alto ele podia ver a cidade em festa, iluminada, e pôde ouvir quando todos o cumprimentaram com gritos e festejos conforme o último dragão decendente despertava. 

Ainz/Bones pode ver a cidade com detalhes, a qual já conhecia muito bem, mas agora era ainda mais bela. À noite, era iluminada com lanternas e lampiões coloridos. Haviam muros rodeando a cidade, muros que os protegiam de perigos. E então Ainz se lembrou. Lembrou o motivo de seu pai ter tido reuniões a semana inteira. O motivo de sua mãe parecer tão perturbada. 

Estavam em guerra. 

E seus inimigos eram os humanos. 

O mundo onde os dragões viviam ainda era Zephyr, mas era tão diferente naquela época. Não havia fukai. As raças prosperavam, cada qual em seu canto, mas os humanos eram gananciosos. O progresso de sua civilização não era o suficiente, queriam o progresso das outras. 

A história que o ancião contara em sua passagem lhe voltou à mente como uma memória vívida: As antigas divindades derramaram sobre o mundo a benção da mana e seu uso, criando as diferentes raças, cada qual com seus defeitos e fortalezas. Aos dragões, deram parte de seu conhecimento em magia a fim de serem os protetores de tal poder, a fim de manterem o equilíbrio. Contudo, este equilíbrio teria que ser mantido de forma que não se aliassem a raça alguma, e também que não se opusessem a raça alguma. Deveriam intervir somente, e tão somente, caso o mundo corresse perigo. 

E era isso que se discutia. 

O pai de Ainz, Armat, queria intervir e acabar com a ganância humana, mas todos do conselho queriam manter tudo como estava. Os irmãos também tinham as opiniões divididas. A nação dracônica não interveio em séculos, não seria fácil exigir uma intervenção agora.

Mas tudo isso mudaria no dia seguinte. Pois agora o voto de Ainz contaria. 

Quando voltou voando à colina, seu pai e seus irmãos já haviam voltado para casa. Na grama verde havia uma mulher semi-transparente, segurando uma profusão de flores e folhas. Ela sorria para Bones quando este pousou na grama à sua frente. A mulher o observou com os olhos acinzentados.
- Está aí algo que eu não via há muito tempo.

Bones começou a se transformar novamente em humanóide, descobrindo que o incômodo era muito menor em seu corpo. Talvez ficasse cada vez mais ameno com o tempo. 

E novamente estava pelado.

- Já isto, estou vendo com mais frequência do que imaginaria. - foi o comentário bem humorado de Yuuko. - Eu já sei a resposta, mas vou perguntar mesmo assim... pronto para voltar ao nosso tempo de origem?

Yuuko sorriu, um sorriso triste de alguém que compreende muito mais do que demonstra, fitando Ainz com seus olhos cor cinza. 

Quando estiver pronto, estarei no seu quarto aguardando no círculo. Precisamos voltar de onde começamos.

A bruxa se retirou, deixando Bones na colina, com seus pensamentos e emoções. 

A noite estava fresca. O vento em sua pele era refrescante, o cheiro da grama inundava suas narinas, com um fundo de comida e bebida que lhe renovou as memórias do que tinha passado naquele um dia. 

Quando estivesse pronto, Ainz se retiraria para o castelo, pelo mesmo caminho que conhecia de outras vidas. 

O salão estava ainda com mesas quebradas, mas limpo. Sem a comida, a bebida ....e as brigas, as risadas. Os tronos de seu pai e sua mãe jaziam vazios, longe e distantes. Assim que se virou para encarar o corredor deu de cara com uma figurinha baixinha, conhecida. 

Era Nebula, já com seus enormes pijamas e seu moicano bagunçado. Segurava nas mãos uma bola de cristal e tinha em seu rosto a costumeira expressão sonolenta. Nebula era a mestra dos ventos, mas também do tempo, da adivinhação e dos sonhos. A bola de cristal era algo que sempre carregava consigo quando queria ver algo. Era a irmã mais distante, pois vivia em seu próprio mundo, a maioria do tempo dormindo no jardim. 
- Está voltando só agora, Ainz? Está tarde. - disse, encarando Ainz com seus olhos cinzentos por baixo das pálpebras semi-cerradas.

Nebula acenou a cabeça negativamente. 
- Não me preocupou não, Ainz. Eu sabia onde estava. É que, geralmente, eu ando pelos corredores sozinha a essa hora. 

Dando de ombros, continuou. 
- Ossos do ofício, acho eu. 

Quando Ainz lhe perguntou se algo a preocupava, Nebula olhou para o cristal em sua mão. Ainz só via uma esfera transparente e clara, mas sabia que Nebula via muito mais ali do que qualquer um poderia imaginar. Uma vez ouviu sua mãe explicando a Lux que, dos sete, o poder de Nebula é o que trazia mais peso e dor, por isso dormia tanto e não precisava fazer tantos deveres como os demais. 

Nebula fazia pequenas adivinhações no dia a dia como se não fossem nada - quem vai ganhar a corrida, Fulgor ou Ainz? Quem vai comer mais tortas de maçã, Trevor ou Ignis? Quem vai conseguir casar primeiro, Gladis ou Gaia? ... Mas também recebia visões mais complexas: Onde estavam acontecendo conflitos no continente? Quantos iriam morrer em uma batalha ao norte? 
Estas vinham quando era hora, Nebula não controlava. 
- Preocupar.... Não é exatamente preocupação. É mais algo que vai precisar ser feito, mais cedo ou mais tarde... e eu prefiro que seja mais cedo... infelizmente.

Olhando Ainz novamente, entortou a cabeça. 
- Faz sentido? Sei que não faz, mas respondi mesmo assim. E você? Há algo que o preocupa?

- Uma boa noite, Ainz. - foram as palavras de Nebula para o irmão, enquanto fitava ele se afastar.




 - Não faça nada imprudente.


Foram as últimas palavras de Nebula. 





Assim que Ainz entrou em seu quarto, fechou a porta, fitou a mulher semi-transparente que o encarava com o olhar entristecido, e a lembrança do dia seguinte ao seu aniversário estourou em sua cabeça como um fogo de artifício.

O dia em que tudo estourou. 

Nebula fora encontrada morta no castelo. 
Um dos dragões decendentes estaria morto, no castelo. Não haveria marcas de luta, nem de briga, nem sequer ferimentos, mas Nebula estaria ali no chão, gelada como pedra. 

Quem a encontraria seria Luria e ficaria inconsolável. Ninguém saberia o que aconteceu.

Apenas que o cristal da menina estava desaparecido... e que algo acontecera para que ela morresse repentinamente daquele jeito.

- Lamento que o passeio não tenha terminado de uma forma agradável.
Foram as palavras de Yuuko que quebraram o transe no qual Ainz estava. Ainda carregando suas folhas e flores, a bruxa das dimensões aguardava dentro do círculo.

Mesmo que Ainz tentasse retornar por onde entrou, a porta não se abriria.

A bruxa observou Ainz extravasar seus sentimentos, imóvel... mas não insensível. 

Assim que Ainz adentrou o círculo, novamente as chamas voltaram a desenhar o chão. 

Bones escreveu:É você, não é? Mas... como? Nebula, por que não me disse antes? Voce chegou a me procurar? E a nossa familia...

Yuuko apenas continuou fitando Ainz, que logo seria Bones, com os mesmos olhos tristes, mas um sorriso lhe encrispou o rosto. 
- Sou e não sou, assim como você é Ainz, mas também é Bones. Em uma de minhas inúmeras existências, fui chamada de Nebula.


Dizendo isso, Ainz entrava no círculo e este se iluminava com chamas azuis novamente. 
- Quantas vezes eu disse... quantas vezes tentei... Perdi as contas. O resultado é o mesmo. Precisa ser o mesmo.

Quando as chamas se extinguiram, estavam de novo no jardim da loja. Era de noite e o som de festa em Valkaria voltou a encher os ouvidos dos dois. Yuuko caminhou até a varanda, onde uma garrafa de sake e seu kiseru a aguardavam. Mokona logo veio lhe retirar as plantas das mãos, enquanto a bruxa se sentava para beber e fumar. 
- Acredito que, agora, esteja mais calmo e com mais perguntas do que respostas. - Enquanto acendia seu kiseru, olhava Bones com sua expressão tranquila novamente.

A bruxa apenas concordou, sorrindo. 
- A morte... é um alívio, realmente.
Após um silêncio breve, emendou. - Para a maioria, pelo menos.

Bebericando um pouco da bebida, encarou o céu, que começava a ficar estrelado, ponderando o questionamento de Bones.
- Nenhum sobreviveu. Infelizmente, não sei dizer quem renasceu e quem escolheu permanecer no mundo dos espíritos. O único que veio me procurar, ainda vivo, foi você, algum tempo depois. Mesmo assim, não poderia lhe revelar tudo o que aconteceria, e quem eu era... seria muito pior. 

Observando Mokona vir andando, com um belo jarro onde as flores e folhagem estavam inseridos, Yuuko esboçou um sorriso.
- Os dragões decendentes, ou nós, no caso, conseguimos reencarnar nossa essência por muitas vidas. Dadas as devidas oportunidades, resgatamos habilidades, poderes e, até, memórias. Como eu disse antes, as regras tradicionais não se aplicam a mim... mas não significa que não tenha regras próprias. 

O coelho branco depositava o jarro bem no centro de onde o círculo, agora sendo apagado pelo vento, estava há momentos atrás. 
Flores para um túmulo. 
- Pela primeira vez consigo as flores que queria para meu arranjo, e devo agradecer a você. Duas presenças são mais fortes do que uma para esse feitiço. 

Depois de depositar o jarro, o coelho veio pulando até o colo de Yuuko, onde se sentou. Colocando a cabeça para cima, cospiu um único pergaminho, que Yuuko apanhou no ar e estendeu a Bones. 
- Seu pagamento pela companhia. Entregue ao seu artesão. Acho que será de grande utilidade. 

A dona da loja assentiu com a cabeça, sorrindo. 
- Sempre que precisar visitar as memórias, chamarei você, com certeza.


Yuuko ouviu novamente o convite para visitar Nazarick e respondeu animada.
- Vou visitá-los, futuramente, com certeza. Só conheço seus companheiros de memórias, mas não pessoalmente. 

Quando Bones se despediu, Yuuko apenas acenou com a mão. Olhando seu copo de sake no chão da varanda, o mesmo estava trincado. Yuuko suspirou.
- Até mais, querido irmão.  - murmurou para si mesma. Espero que dê tempo.