[Campanha Bones] Nazarick renasce

Finalmente Demiurge voltava a Nazarick, sendo recebido pelos antigos companheiros e uma nova tumba, que renascia aos poucos dos escombros e detritos ocasionados pelos sete dias de fogo.

 
A tumba não parecia em nada o que era na primeira visita de Bones. 

Agora estava viva. Os andares aos poucos iam tomando forma. Shaltear, como responsável pelos andares iniciais, cuidou para que se tornassem, mais uma vez, uma arma de defesa mortal para qualquer idiota tolo o bastante para invadir Nazarick. 

O quarto andar, com o lago e a caverna, tinha sido limpo dos detritos por Cocytus e a água purificada por Mare. 

Em seu andar de gelo, Cocytus ergueu novas geleiras. Aura prometeu arranjar algumas bestas árticas para viverem por ali.

Falando em Aura, ela foia responsável pela reforma da arena. Havia um catálogo de animais para servirem de cobaia em feitiços, ataques e treinos de batalha - isso quando os guardiões não tiravam uma teima entre si, por diversão e para se manterem em forma.

O andar da lava e do fogo agora contava com um residente permanente, que faria companhia a Demiurge. Kamaji não teve problema em montar sua forja e 2B visitava a vila frequentemente para trazer metal e jóias. 

As planícies foram o que ficaram por ultimo, por isso estavam muito vazias. Mare havia dado conta da parte vegetal, mas Aura ainda estava cuidando da fauna.

Pandoras tratou de alocar-se em um aposento atrás da sala do trono, onde era o cofre da tumba. Agora com suas memórias mais claras, este era seu posto original. Responsável pelo tesouro da tumba.

Albedo tinha se esmerado na sala do trono e nos aposentos, especialmente no quarto de Bones, deixando tudo limpo e à altura. Lembrava seu quarto na cidade dracônica de Teran. Sebas formou um pelotão de maids que deixavam a tumba limpa e funcionando como um brinco. 

Ao estarem todos - ou quase - reunidos em Nazarick mais uma vez, era hora de se reunirem na sala do trono com seu soberano, mais uma vez.

Todos estavam emocionados com aquela situação solene. Pela primeira vez, todos os guardiões estavam reunidos com seu mestre, ouvindo-lhe e servindo-lhe. Era um momento de alegria, mas principalmente de orgulho, de propósito. Após tanto tempo selados, adormecidos, os guerreiros de Nazarick se levantavam mais uma vez, liderados por seu mestre há tanto esperado. 

A jornada da ossada Bones começou pequena, regada a tombos no fukai, e brigas com baratas, mas agora estava longe de acabar. 
Todos se posicionaram à frente de Bones, em linha, somente com Albedo dois passos a frente, como líder do grupo. 

A cada delegação de deveres, os sorrisos se alargavam. Iriam servir, finalmente. Isso era o que mais precisavam. Servir ao propósito de Nazarick.

Demiurge escreveu:
Demiurge mantinha-se impecável, como sempre, com uma das mãos sobre o peito. Ao receber suas ordens, não poderia exibir um sorriso mais demoníaco.
- Será um prazer, Lord Ainz, servi-lo mais uma vez. Ainda mais de tal forma, causando a discórdia e caos na sociedade humana. Farei com que as sombras não sejam seguras a ninguém.

Aura e Mare escreveu:
Os gêmeos levantaram a cabeça ao serem chamados. Aura era só alegria e animação, enquanto Mare demonstrava seus comuns sinais de insegurança e ansiedade.
- SIM SENHOR! Faremos muito mais pela grande tumba de Nazarick.

- eh..... ahn .....S-sim... ob... obr...
- Assim você só vai irritá-lo! Ande logo e desembuche o que quer falar!

Com um ganido, Mare balbuciou um "muito obrigado" e mais uma vez se encurvou, deixando a irmã suspirando de vergonha.

Cocytus escreveu:
O grande inseto soltou vapor pela boca e falou em seu corriqueiro tom alto e formal.
- JÁ TENHO SUBORDINADOS CAPAZES CUIDANDO DISSO, MESTRE. A VILA SEGUE PROSPERANDO, MESMO COM MEU AFASTAMENTO. FAREI MUITO MELHOR COM O POVO LAGARTO. AGRADEÇO IMENSAMENTE A CONFIANÇA EM NÓS DEPOSITADA.

Pandora escreveu:
Pandoras estava brilhando de entusiasmo, erguendo os braços de contentamento, não podia reprimir sua vontade de sair dançando, mas sob os olhares assassinos de Albedo, consgeuiu se manter ajoelhado. Já seus braços, gesticulavam como birutas ao vento.
- Ja, mein Meister!!! Serei o espião perfeito de vossa casa! Suas palavras enchem de gloriosa alegria e entusiasmo este humilde servo! 
- Das wird legendär - gritou finalmente.

Sebas escreveu:
Sebas era o único que se mantinha em pé, ao lado, com uma mão sobre o peito e curvado. Recebendo suas ordens, respondeu com o decoro de sempre.
-Auxiliarei mestre Pandoras em todo e qualquer aspecto. É uma grande felicidade e honra poder servir mais uma vez, mestre.

Shalltear escreveu:
Shaltear tinha uma expressão contente, e se encheu de rubor ao ser mencionada, falando com sua voz sedutora.
- Ah Lord Ainz! Sou indigna de elogios! Cumpri apenas com meus deveres como guardiã da gloriosa tumba de Nazarick. Tenho certeza de que poderei servir muito mais no futuro.

Albedo escreveu:
Finalmente tinha chego sua hora. Ainz lhe dirigia elogios. As punições eram maravilhosas, não entendam mal, mas os elogios!!!

Era ali que estava o perigo. Albedo teve de usar cada grama de poder em seu corpo para não se atirar em cima de Ainz, em um momento solene daqueles.
- Ainz-sama. Suas palavras ficarão para sempre encravadas em meu coração, e farei de tudo em meu poder para fazer por merecer tão valoroso sentimento de vossa parte. - disse em sua voz melodiosa e adocicada.

Shalltear escreveu:
- Ara! Que sentimentos? Você é muito vulgar e prepotente de achar que lord Ainz está confessando alguma coisa por sua pessoa, querida Albedo.

Albedo escreveu:
Faíscas podiam quase ser vistas e sentidas no salão.
- Mantenha-se em seu lugar, Shaltear querida. A relação entre mestre Ainz e eu não poderia ser compreendida por uma criança como você, jamais. 

Vendo que Shaltear havia titubeado ao ser chamada de criança, Albedo emendou fingindo surpresa.
- Oh! Desculpe... Esqueci de sua real idade, apesar de seu corpo e proporções completamente subdesenvolvidas e infantilizadas, sem nenhum atrativo que um homem na posição de Lord Ainz poderia se interessar. 

Aquela cena lhe era familiar. Já tinha presenciado aquilo diversas vezes, mais do que poderia contar. O salão do trono de Nazarick parecia mais amplo, mais imponente, com seus companheiros ali. 


O entorno girou no lugar e o salão de trono se transformou em um lugar diferente, porém familiar. 

Parecia que nada havia acontecido, pois Ainz estava de volta ao seu quarto. Ainda usava suas roupas da cerimonia de seu aniversário, e estava de volta em seu corpo ao que o espelho indicava, mas o quarto continuava o mesmo, com exceção dos círculos no chão e Yuuko semi-transparente. Sabia o que viria em seguir, então só esperou, pois se tentasse abrir a porta antes da hora, ela não cederia.

Esperou pelos gritos.

Fora Luria que encontrara Nebula no corredor, logo pela manhã, e os gritos da matriarca seriam algo a perturbar os sonhos de qualquer um no futuro. Eram urros de dor que, apesar da forma humanóide, vinham de um dragão em pura dor e perda. A dragoa de ouro abraçava o pequeno corpo mole de sua filha e gritava a plenos pulmões. As janelas se quebravam, uma a uma, mas ninguém sequer ousava se aproximar, seus filhos a olhavam de longe. Só os deuses sabem do que seria capaz naquele estado. Foi Armat que veio andando em direção à esposa, devagar, ajoelhando-se ao seu lado e a abraçando junto com o corpo de Nebula. Com o abraço do único que poderia lhe controlar, Luria cessou com o urro, mas não com as lágrimas. 
Só então todos se aproximaram, com suas dúvidas e tristezas.

Nebula parecia estar dormindo, como sempre fazia, mas seu corpo estava sem vida, com certeza. Quem tomou as rédeas foi Trevor, como mais velho, redobrou a segurança e comandou aos guardas e sentinelas para procurarem por toda parte por intrusos, pessoas suspeitas, vasculharem cada esgoto da cidade se fosse necessário. Não ficou ao lado dos pais, mas se retirou para cuidar da segurança. Já Lux, engoliu as lágrimas e partiu para arranjar o funeral.

A cerimônia fúnebre tinha seguido a tradição. Apenas a família real compareceu à mesma colina onde todos tão alegremente se transformavam pela primeira vez. O corpo de Nebula estava depositado por cima de suas flores favoritas - as quais a memória de Bones reconheceu imediatamente. Após o ancião entoar palavras em sua língua antiga, o corpo de Nebula foi aos poucos se desfazendo em pó e carregado ao vento. Cada dragão, dizia-se, retornava ao mundo dos espíritos de uma forma diferente. 

"A morte nada mais é do que a troca do receptáculo, pois dragões não morrem jamais." Foram as últimas palavras do ancião, que estavam longe de oferecer algum consolo. Todos ali conheciam a lenda dos dragões decendentes, mas nenhum deles nunca lembrara de nada de suas vidas passadas, portanto eram consciências diferentes... e a consciência de Nebula tinha desaparecido daquele tempo e espaço.

Mais tarde, todos os irmãos e irmãs vestiam roupas formais na reunião do conselho. 

Armat estava com sua costumeira armadura e seu casaco de peles sobre um ombro. Tinha ganhado rugas, com certeza, nas últimas 24h, mas mantinha sua expressão séria e dura, sem demonstrar qualquer fraqueza.

Já Luria usava roupas brancas e tinha no rosto a estampa do luto por Nebula. Sua filha, Lux, permanecia a seu lado com uma mão em seu ombro a todo momento.

Ao centro, uma mesa tinha o mapa de todas as terras de Zephyr, com marcadores em diferentes cores de acordo com as nações. Bones pôde notar que, no futuro, até a disposição das terras no continente seria diferente.

Ao lado do mapa, havia um homem de cabelos, olhos e pele negra, largo como um armário e sério tal qual. O general Zimas falava a todos sobre a situação da grande guerra que se estendia entre humanos e as outras raças. Os humanos haviam adquirido a vantagem, de alguma forma, criando armas poderosas que estavam dizimando cidades inteiras em questão de dias. O modo como progrediam no uso da mana, entre outros elementos e artifícios, era amedrontador. Como uma raça dita mais frágil, a mais mortal, mais efêmera, poderia ter ganho tamanho poder bélico em questão de anos? Essa era a dúvida de todo mundo na sala.

- E voltamos à velha discussão. - levantou-se Armat - Esperar demais é pedir que uma catástrofe irremediável aconteça.
- Exatamente. - apoiou Trevor - Já deixamos os humanos livres demais. Logo não haverá mais raça nenhuma para proteger. Estamos inativos por tempo que chega. 

- Nossa função é proteger o mundo, Trevor, e não as demais raças. - cortou Lux - Se as raças se matarem entre si, é somente o curso natural das coisas.

Trevor olhou a irmã gêmea com pura raiva no olhar. Os gêmeos eram tão semelhantes na aparência, mas não poderiam ser mais opostos na personalidade e nas opiniões.

- Eu concordo com Lux - disse Gaia - se intervirmos agora, qual será o próximo passo? Vamos intervir em toda guerra que houver entre as raças viventes? O mundo e a natureza são nosso foco, e por enquanto não há nada ameaçando o mundo como conhecemos.

- Deixe que eles se matem - foram as palavras doces de Ignis, o irmão com menos papas na língua e que não poderia se importar menos com qualquer coisa que não o próprio rabo - Quanto menos tiver deles, melhor.

- Vocês estão esquecendo de algo muito importante - explodiu Fulgor, hoje mais sério do que de costume - Após detonar com outras raças, o que garante que os humanos não virão atrás de nós? Vamos ficar de braços cruzados também para isso? Eles estão ganhando força de alguma forma que desconhecemos e vamos só ficar parados discutindo?

- Você não sabe se isso irá acontecer, Fulgor. - foi Gladis quem mencionou, fria como sempre.

- É, bem... não tenho os poderes de prever o futuro, irmã. - irrompeu Fulgor.

Essa frase matou o assunto na sala inteira. Fulgor se ruborizou e olhou sua mãe com vergonha.
- Perdão.

- Não  faz mal, querido. - começou Luria - Melhor falar de Nebula do que fingir que ela nunca existiu.

Todos fizeram silêncio, pois sabiam que Luria queria falar mais, contudo estava buscando palavras, ou força, para continuar.

- A perda de Nebula foi pesada para todos, mas especialmente para mim por um motivo. Ela me confidenciou que precisava fazer algo. Que melhor mais cedo do que mais tarde. Seria algo difícil, mas que precisava ser feito. Nebula sempre foi misteriosa, mas eu deveria ter questionado mais...
- Ela não lhe responderia de maneira objetiva, mãe, e você sabe - consolou Lux.
- Mesmo assim. - Continuou Luria - Ela sabia o que estava por vir e decidiu por não contar a ninguém. Não entendo porquê teve de morrer, e não sei o que isso significa: Se ela morreu para não ter de intervir nesta droga de guerra, ou se interviu de alguma forma, à sua maneira. Antes eu seria a favor de permanecer como estamos mas agora....

- Agora? - perguntou Armat esperançoso
- ... Com o que aconteceu a Nebula não tenho mais essa certeza. Abstenho-me de votar.

E todos se viraram para Ainz. Era maior de idade agora, podia votar e dar sua opinião a respeito do assunto.

Zero pressão.

Não esperavam menos de Ainz. apesar de ter sido considerado maior de idade apenas ontem, sempre deu mostras de sua aptidão para política, estratégia e planejamento. Trevor sorriu ao ver que a opinião do irmão era similar à sua, mas ainda estavam empacados no mesmo problema.

- Assim não chegaremos a lugar algum e a inatividade é o pior curso de ação. - foi o pai quem quebrou aquela discussão. - A fim de respeitar as opiniões de todos e tomar uma atitude justa, faremos uma divisão em nossa ação. 
Lux: Você encabeçará uma iniciativa preventiva para proteção da natureza, que é nossa missão primordial, e todos aqui concordam com isso. Gaia, Ignis e Gladis a ajudarão. Vocês terão que resolver entre si a melhor maneira de garantir que, não importa o que aconteça, o mundo possa se regenerar de alguma forma. Até segunda ordem, esta é sua missão e não deverão abandonar seus postos ou mudar o foco em hipótese nenhuma. 


Armat agora encarava Trevor.
Você, Trevor, irá colher informações, pois este é o seu forte. Use seu poder para vigiar cada canto dos diferentes reinos nesta guerra. Use Fulgor e Ainz para auxiliá-lo. Não deve intervir diretamente em nenhum dos lados, apenas vigiar, informar-se e ficar a par do máximo que acontece nos diferentes reinos. Precisamos saber os detalhes da guerra e, principalmente, dos humanos: o que podem fazer, o que querem fazer. Sugiro que também colha informações das raças as quais estão sendo atacadas, quem sabe assim saberemos os próximos passos dos humanos.

Sua mãe e eu ficaremos para proteger Teran, já que ainda não sabemos se fomos atacados, ou se seremos atacados. - o mistério da morte da filha ainda pairava por sobre sua cabeça. Apesar de imaginarem que seria uma estratégia de Nebula, ninguém ali poderia afirmar com certeza. Os humanos ganhavam poder a cada dia, seria impossível afirmar que não teriam descoberto um meio de fazer isso. -  Redobraremos a segurança e tomaremos todas as precauções considerando que estamos em guerra. Alguém tem uma idéia melhor? Se tiver, sugiro que fale agora ou vá imediatamente cumprir seu dever.

Como ninguém se manifestou, cada qual seguiu seu caminho. Trevor saiu da sala do conselho com Fulgor e Ainz aos calcanhares. 
Os três andavam até o quarto de Trevor enquanto o filho mais velho se pronunciava.

- Muito bem, meninas, não preciso dizer que o assunto é sério e vamos obedecer à risca as ordens do velho. Nada de esquentar a cabeça e agir desmioladamente. 

Aqui Trevor parou e encarou Fulgor nos olhos, batendo o dedo em seu peito.
- NAda. De Agir. Desmioladamente. - repetiu, frizando palavra por palavra.
- Hey, eu entendi. Já entendi. Vou consultar vocÊ até pra tirar a água do joelho.
- Isso. Faça isso. 

Entrando no quarto de Trevor, estava uma zona. Não tinha tido tempo para arrumar nada. Chutou suas roupas do chão e caminhou em volta pensativo. 
- Posso montar um sistema de sombras para colherem informações para mim, mas até eu tenho limites. Vou precisar de tempo...  Preciso que vocês me ajudem em campo, indo até as cidades, investigando e perguntando para quem puder responder. Fulgor pode ficar com a parte sul, mais montanhosa e mais vasta. Você é rápido, então vai ser discreto. SEJA DISCRETO. Ainz, seus mortos-vivos conseguem lhe passar informação do que vêm? Seria muito útil ter olheiros nos cemitérios e, numa guerra, corpos são o que mais temos em abundância. Se tiverem idéias, pelos deuses e pelas barbas de seu pai, falem e me ajudem aqui. 

Trevor observou Ainz erguer uma sombra e lhe deu um sorriso malicioso, porém extremamente orgulhoso do irmão.
- Usar errado.... Você acabou de sair das fraldas e tem coragem de falar assim com seu irmão? 

Fulgor olhava aquilo boquiaberto.
- Agora vocês dois são igualmente esquisitos, parabéns. 

- Fulgor, cala a boca e começa a se preparar. Já que você tem facilidade para se movimentar por aí, vai cobrir uma área muito maior do que nós em pouco tempo, mas concentre-se nas áreas que Ainz e eu não vamos ter tanta facilidade, como tribos, áreas sem civilização aparente, mais remotas. Ainz vai para as cidades, angariar olhos e ouvidos.... e quem sabe, soldados para uma eventualidades. Concentrem toda a informação em mim. Vou cobrir o máximo de área possível também. 

Dizendo isso Trevor apontou as palmas das mãos para o chão, aos pés dos irmãos. Seus olhos se tornaram completamente negros e as sombras dos dois reluziram em um tom de vermelho sangue. 
- Muito bem. Se precisarem entrar em contato comigo, chamem pelas sombras. Vou poder acessá-los mais rápido assim. Vamos usar as sombras como portal para sermos mais ligeiros. Vão pegar o que precisam para partir imediatamente. 
Assim que os três estivessem vestidos de acordo, e armados como se devia, reuniriam-se de novo no quarto. O dragão das sombras usava uma armadura lisa, negra, com adornos em prateado. Fulgor também usava uma roupa de batalha, com seu arco a tira-colo. Havia mais uma pessoa ali, vestida como mordomo. Ainz reconheceu aquele homem de cabelos prateados, mesmo que não tivesse barba. Sebas era seu nome, e se vestia exatamente como no futuro.
- Ainz. Este é Sebas. Vou deixá-lo com você para auxiliá-lo no que precisar em terra. Dos três, você é o que estará mais próximo do perigo, então é bom ter um reforço. Sebas pode parecer educado, mas é bom em distribuir socos. 

Sebas cumprimentou Ainz como cumprimentaria Bones no futuro, mão sobre o peito e curvando o torso.

Com um gesto de sua mão, a sombra de Trevor se grudou na parede e mais parecia uma porta. Os quatro atravessaram a sombra como se fosse um buraco na parede e chegaram a um lugar que era a "dimensão privativa" do irmão. Parecia uma enorme casa de pedra, mal iluminada. Haviam escadas e portais para todos os lados, e em todas as direções, inclusive de ponta cabeça. Qualquer outra pessoa se perderia ali, mas Trevor sabia exatamente onde cada portal levava.

Voltando seus olhos ao normal, deu um sorriso sarcástico para Ainz.
- Essa você ainda não sabia, não é, espertalhão? Qualquer dia destes, quem sabe te ensino esse truque. Fulgor, vou largar você a leste, e você vem seguindo para oeste. Ainz, vou largar você e Sebas no lado oposto. Eu vou permanecer me concentrar no centro. Alguma pergunta?

Fulgor foi o primeiro. Parando ao lado de um portal, Trevor passou a mão na frente do portal e este mostrou o topo de uma montanha gelada.
- Cacete! Logo com frio??? Eu detesto frio! 
- Cala boca, Fulgor! Se eletrocute que esquenta. - deixando a brincadeira de lado, Trevor segurou o braço do irmão com uma mão e o abraçou. - Boa sorte e NÃO FAÇA BESTEIRAS. 
- Certo certo! Vou me divertir, isso sim. - Fulgor deu seu melhor sorriso e saltou para fora. Trevor e Ainz ainda tiveram tempo de ver sua transformação, já do lado de fora, e Fulgor era um magnífico dragão de um tom azul cerúleo. Seu corpo era fino como de uma cobra, com dois pares de asas. Junto com Nebula, Fulgor era o que tinha o corpo mais diferenciado por conta de sua velocidade. 

Após verem o irmão voar para longe, Trevor gesticulou novamente e o portal voltava a ficar escuro. Voltou a andar enquanto conversava com Ainz. 
- Tenho um pressentimento que não vamos ficar na observação por muito tempo, Ainz. Não quis falar na frente de Fulgor, porque ele é impulsivo, já sairia jogando relâmpagos por toda parte. Faça o que puder para ganhar, não só informação, mas também algum tipo de vantagem em cima dos humanos. 
 
Em um tom bem sério, Trevor comentou: - Vou estar fazendo uma manobra um tanto arriscada, mas vou tentar me infiltrar dentro do centro político e militar deles, ver se consigo alguma informação que nos permita agir logo. Quais seus objetivos, que armas possuem, até quanto evoluiram em magia e tecnologia. Não sabemos absolutamente nada. Eu gosto de sombras, mas não gosto de ficar no escuro.

Desceram uma escada e deram de cara com um corredor cheio de portais. O dragão das sombras gesticulou novamente e Ainz pôde ver um beco, em alguma cidade no campo.
- Esta cidade é afastada do centro da festa, mas é o ponto mais a oeste com certa civilização que conheço. Não gaste seu mana até o fim, evite sua forma original porque ela gasta energia demais, use Sebas quando precisar e me chame por sua sombra se tiver problemas. Eu responderei assim que possível.

Assim que Ainz estivesse pronto, Trevor o cumprimentaria da mesma forma que o irmão e o despacharia portal afora, junto com Sebas.

A cidade tinha um certo movimento, mas era um movimento de cidade pequena. Ao fim da tarde, os fazendeiros estavam voltando para casa, as casas de comércio começavam a recolher seus caixotes e produtos, o pub começava a servir o que quer que fosse aos trabalhadores cansados e as mães chamavam seus filhos para tomarem banho e jantarem.  

De cara, Ainz não podia ver nenhum humano. Todos eram youkais kuma, enormes, musculosos e pacíficos, tal qual no futuro seriam. Uma vida de interior bem comum.

Tanto ele como Sebas chamariam uma atenção desnecessária se simplesmente saíssem na rua e começassem a caminhar. Sebas se parecia demais com um humano, e Ainz... bem... Ainz estava com uma armadura para lá de intimidadora. No beco, estariam seguros, ao que parecia, até o fim da noite. 

Mas a indecisão do que fazer durou pouquíssimo tempo. Um kuma vinha correndo cidade adentro, correndo e gritando a plenos pulmões.
- ELES ... PELOS DEUSES... ELES ..... CHEGARAM...  CORRAM! 

Não teve como continuar gritando e correndo. Logo cinco cavaleiros montados a cavalo, vestindo armaduras vermelhas completas, espadas e cetros, passaram por ele. Todos humanos. O brasão em suas capas era o mesmo do futuro: Reino de Kosala. O humano que vinha à frente passou logo ao lado do kuma e lhe partiu as costas com um golpe, deixando para trás o corpo do kuma inerte. 

Os cidadãos começaram a correr, mas os fazendeiros empunharam suas ferramentas e, alguns, espadas e facas. 

O homem parou ao centro da cidade, em uma pequena praça, e falou em alto e bom som, exibindo sua espada manchada de sangue.
- Atenção, aberrações! Esta cidade agora pertence ao glorioso reino de Kosala, por ordem de vossa Majestade Lindard II! Qualquer opinião contrária será tida como traição em último grau e punida dentro das leis de nosso reino. Todo homem, mulher e criança em condições de levantar uma picareta, uma enxada ou uma espada, será integrado nas forças militares de Kosala, imediatamente. Os outros podem retornar a suas vidas patéticas.

Após esse discurso, mais cinco soldados chegavam pela rua principal, incluindo duas caravanas fechadas, provavelmente para carregarem os "voluntários".

Sebas escreveu:
-Ainz-sama... - era a mesma voz de Sebas, mas sem o aspecto mais maduro e envelhecido. - Podemos sair pelo outro lado da rua, creio que não nos verão.

Os dois viraram as costas e saíram por trás das casas, largando a comoção e o falatório para trás. 

Ao se dirigirem para o lado de onde os soldados haviam chego, Ainz pôde avistar o cemitério da cidade, afastado mas à vista. Apenas lápides de pedra e um pequeno altar para divindades selvagens.  

À frente, a estrada por onde os cavaleiros vieram. A cidade se encontrava em um ponto alto em uma colina e Ainz podia ver, bem lá adiante, a alguns quilômetros, o assentamento dos humanos.

A terra de cada cova e tumba se revirou e, um a um, os mortos voltavam a se mexer. Alguns mais bem conservados que outros, mas todos kumas, todos enormes em proporção, com garras e presas a mostra, olhos arroxeados, exalando a energia de Ainz. Haviam covas que não se abriram, talvez fossem muito antigas e já não abrigassem mais nada. 

Um a um, as sombras reerguidas corriam para as sombras de Ainz e Sebas, escondendo-se e aguardando suas ordens. 
No total, Ainz havia conseguido 35 sombras. 

Sebas escreveu:
Sebas olhou Ainz com um olhar que ele reconhecia de muito tempo. Se Ainz estava esperando por concordância, esta já podia ser esperada.
- Fui destacado por mestre Trevor a seguir e obedecer o filho mais novo de Armat e Luria, lord Ainz. Farei isso, mestre, confiando em sua capacidade de julgamento e decisão. Ordene e eu farei.

Sebas assentiu com a cabeça e sumiu de vista. 

Quando Ainz voltou ao lugar onde os soldados estavam as caravanas estavam abertas, já com alguns kumas lá dentro. Haviam dois soldados repreendendo um kuma enorme de cor marrom, que resistia a plenos músculos. O restante estava ladeando uma fila de cidadãos peludos para entrarem nas carroças.

Mas tudo parou quando o som de metal se arrastando foi notado. As faces de todos se voltaram ao recém-chegado, tanto soldados quanto youkais. 

Os soldados encararam aquilo como um maluco de foice, vindo buscar problemas, mas suas ordens eram de capturar vivo qualquer ser que servisse em batalha. Aquilo serviria em batalha. O comandante, pelo menos o que usava armadura mais imponente, puxou as rédeas do cavalo e o fez empinar. 

- Páre agora e se renda, em nome de Vossa Majestade. - foi o aviso que deu a Ainz

Obviamente, Ainz não o faria, então o soldado sorriu e partiu para cima dele, cavalgando em alta velocidade e com a espada paralela ao chão.

Precisava dar o exemplo para o restante.
Mal sabia que seria o exemplo mesmo.

Um dos soldados, ao sentir aquele arrepio na espinha, conduziu seu cavalo de volta para a estrada. Ao chegar ao final da rua principal, saindo da cidade, um vulto veio ao seu encontro do telhado de uma das casas. 

Sebas estava em pé, em cima do soldado, com um pé sobre seu tórax. O soldado cospia sangue e, embaixo de seu corpo, se formara uma cratera. O mordomo ajeitou suas luvas e se manteve em pé, ao final da rua. Dali, ninguém passaria vivo.

Os cidadãos da cidade, muito sabiamente, correram para suas casas. 

Com a aura emanada de Ainz, os cavalos ficaram difíceis de se controlar. O líder dos soldados desmontou e sacou sua espada, encarando Ainz. Já tinha entendido que aquele não era um inimigo comum. Sem demorar atirou-se para o ataque, e os soldados que não tinham se mijado o seguiram, atacando as sombras de Ainz. 

O líder, tinha um estilo de esgrima mais refinado, mas ainda assim muito primitivo para Ainz, que mexia sua foice o mínimo possível, recharçando os ataques do humano insignificante. Talvez tivesse permitido que chegasse até ali por puro prazer, pois poderia muito bem tê-lo impedido logo que desceu de seu animal.

Sebas com profissionalismo e sem um pingo de esforço, pisou em uma barata que tentou escapar. Todos pareceram que entenderam e não tentaram. Ótimo, embora alguns haviam se mijado, o que deixaria um cheiro desagradável, típico daquelas criaturas.

O comandante achou que poderia fazer algo contra ele, pensou que poderia atacar suas sombras e a si. As sombras deixavam que os soldados as atacassem, então com a arma no meio de seu corpo, presas, eles podia simplesmente ataca-los sem que eles pudessem resistir. Quanto ao comandante, seus golpes eram piores do que de seus irmãos, parecia uma brincadeira de criança, bastava segurar a foice com uma mão para defletir os ataques.

Havia pensado que poderia ter um pingo de diversão, mas estava enganado, de nada adiantaria mantê-lo vivo, era mais útil morto. então com a outra mão, simplesmente segurou a espada dele, cortando-o horizontalmente com a foice, jogando o corpo para o lado enquanto permanecia ali de pé a sua frente a sombra dele.

Ao fitar seus olhos, a sombra imediatamente se ajoelhou, implorando por sua existência. Iria apenas aguardar suas sombras terminarem para então começar o interrogatório. Quanto aos cidadãos, não se importava com eles. Ou melhor, se importava, mas não era sensato intervir ainda mais.

- Quem esta no comando do acampamento? Quantos vocês são? Como vocês estão conseguindo tanto poder contra as outras raças? Fale tudo o que sabe sobre a guerra.

A sombra respondeu a todas as perguntas ajoelhada, mantendo seus olhos arroxeados em Ainz, como se mirasse um deus ou algo parecido. 

- O acampamento tem um capitão, e cinquenta soldados. Estamos com três caravanas de soldados. De um mês para cá, recebemos armas e equipamentos mágicos, poderosos. Nossos magos, também, parecem estar mais fortes do que jamais estiveram. Há um destes magos no acampamento, nunca vi um mago com tanto poder. Apenas recebemos esses equipamentos, sem fazer muitas perguntas.


- Kosala quer expandir seu território e seu poder para todos os cantos do continente, e depois além mar. Para isso, precisamos conquistar cada vila e cada cidade, angariando trabalhadores para as minas, para as forjas, fazendas e soldados descartáveis para a linha de frente nos campos de batalha. As outras raças alegadamente sempre se entitularam superiores aos humanos, agora os humanos querem provar do que são capazes. Dizem que, em mais ou menos vinte anos, tudo estará acabado, a guerra, as disputas. Tudo. 


- É tudo que sei, mestre. 

Foram as palavras da sombra.

O assentamento consistia em cinco tendas, uma se destacando das demais. Ao centro havia uma fogueira. Do lado leste, três caravanas aparentemente cheias de recém capturados. 
Assim que sua figura se fez presente à vista dos vigias, dois arqueiros montando guarda começaram a tomar posição para atacar. 

Sebas se colocou em pé em seu cavalo e se atirou para frente, com dois pés bem no peito do arqueiro da esquerda. Ficaria de olho para que ninguém pudesse escapar dali. 

Enquanto isso, o barulho óbvio de briga chamou a atenção de quem estava dentro e fora das tendas, todos se locomovendo até o local da confusão.