[Campanha Bones] A busca pela mulher das memórias.

Do Vale dos Ventos, não foi difícil arranjar uma nave rúnica que fizesse o caminho até Valkaria. Contudo, teve de esperar até a ilha estar perto o suficiente, pois ela ficava transitando nos céus de Zephyr. 

Quando todos estavam a bordo da embarcação rúnica, esta flutuou e subiu. O dia estava claro, então Bones podia ver a paisagem com clareza, pelo menos até entrarem nas nuvens, quando tudo ficou branco. 

Assim que a nave se colocou acima do grosso manto fofo de nuvens, era possível ver a ilha. Uma enorme formação rochosa, flutuando acima do continente. A nave deu uma volta inteira na ilha antes de parar no porto. No total, a subida levou umas duas horas.
Assim que colocou os pés no chão da ilha, Bones pôde sentir o tanto de magia que ali circulava. Estava nas ruas, nas construções, em volta da ilha como um campo de proteção, talvez para evitar ataques ou suicidas, quem sabe os dois.

Não precisou se preocupar em começar a pedir informação, pois algo lhe chamou a atenção. Logo à sua frente, pousada em uma caixa de madeira, estava uma borboleta roxa. Assim que os olhos de Bones a fitaram, esta levantou vôo e partiu na direção de uma larga escadaria.

A borboleta parecia o guia de Bones. Seguiu pelas ruas de Valkaria voando devagar, mas sempre que Bones era pego em uma multidão - porque o mercado estava cheio - a borboleta fazia questão de parar em um chapéu ou poste para esperar que a ossada voltasse a pegar o ritmo.

O mercado era vivo. As lojas dos mais variados tipos vendiam itens dos mais raros, a maioria, mágico. Era comum as lojas de armas e armaduras, mas a maior quantidade era de pergaminhos, poções, vestes encantadas, livros e tomos. Tudo muito caro, Bones já podia ver.

Ele e seu guia desceram uma ladeira, onde o movimento era quase nulo, por ruas mais calmas e desertas. Finalmente, a borboleta parara sobre um muro de um terreno.



A casa lhe era familiar.... tinha estado ali mas, ao mesmo tempo, não tinha.

Na varanda da casa, uma mulher estava sentada com uma garrafa de sake ao lado. Tinha um cachimbo japonês pousado em um suporte ao seu lado e segurava um pequeno copo.
Era uma mulher aparentemente humana, com cabelos longos e negros. Seus olhos acinzentados miraram Bones e ela lhe direcionou um sorriso.

Yuuko. A mulher que ele vira nas memórias de Victor Trumm.
- Hoje, você chegou na hora. - foi o que ela disse, e fez sinal para que ele se sentasse na varanda com ela.
- Imagino que você tenha perguntas e apresentações sejam quase dispensáveis.

A mulher sorria para Bones, um sorriso amigável, de uma velha conhecida. 

- Creio que uma certa explicação seja necessária. Isto aqui é uma loja. Eu sou a comerciante. Minha mercadoria, ou meus serviços, são os desejos. Consigo realizar quase qualquer desejo, desde que um preço justo seja pago.

Yuuko pousava o copo e dava uma baforada em seu cachimbo, observando os desenhos da fumaça. 

- Você... é um antigo cliente meu. A primeira vez que nos encontramos, você requisitou um serviço, o qual eu forneci. Contudo, eu tive de cobrar um preço justo, porém alto, combinado com a dificuldade do serviço. 

Aqui a comerciante voltou a olhar para Bones, sorrindo: - Suas memórias estão voltando, pouco a pouco. Conforme você desperta seus companheiros, elas ficarão mais claras, até retornarem por completo. Seus poderes, bem... Isto é um pouco mais difícil, mas pode ser arranjado... desde que você esteja apto a pagar o preço.

Com um movimento lento, Yuuko bateu o seu cachimbo no suporte, tirando as cinzas. 
- Muitos me conhecem como a bruxa das dimensões, exatamente por minha habilidade de transitar entre sonhos..  aqui ela olhou Bones de rabo de olho - e memórias....entre outros. Foi por isso que pude vê-lo nas memórias de Victor. As regras... não se aplicam a mim, de certa forma. Ela riu.

Yuuko se manteve em silêncio por um tempo e então, quando falou, sua voz parecia ter eco.

- Os sete dias de fogo se aproximam. - falou sua voz em eco. 

Ao olhar em volta, Bones pôde perceber que o céu estava mudado. Não estavam em Valkaria. Estavam em terra firme, pois podia ver montanhas no horizonte. Ao encarar de volta Yuuko, ela estava vestida de outra forma, com roupas mais simples e de tons claros, mas na mesma posição de antes.

Se olhasse para si, para suas mãos, Bones veria mãos com carne por cima dos ossos. Mãos vivas. Usava seu manto, mas suas mãos continham carne. Não podia ver seu rosto, mas tinha certeza que sentia seus músculos, sua boca, seus olhos piscando. Estava... vivo. 

- Você me pediu por uma adivinhação com relação a Nazarick. Os sete dias de fogo estão vindo. Nazarick não irá sobreviver a eles.  - voltou a falar Yuuko, na mesma voz com eco, e ela encarava Bones.


Impossível - sua voz ecoou em sua garganta. Era diferente, mas era a sua voz... há muito tempo. - Nazarick... Vai desaparecer? Nossa gloriosa Nazarick. 

- Não vai sobreviver aos sete dias. Quase nada vai. - foi a resposta simples de Yuuko.

Após observar suas próprias mãos se fecharem sobre o manto, voltou seu olhar para Yuuko.

- Vejo que tem um pedido. - A bruxa assentiu.

Pode realizá-lo? - foi a única pergunta dele.

- O preço... 

Pago qualquer coisa. - foi a resposta incisiva de Ainz

Yuuko fechou os olhos, como se estivesse se entristecido com o comentário.
- Não se pode, jamais, dizer tal coisa.


Os guardiões? Meus companheiros. Quero que inclua eles no pedido.


Cada um terá que pagar o seu. - respondeu Yuuko. - Você não pode pagar pelos outros.


Aqui a boca do homem se encrispou em um sorriso. 
- Sei que eles ficarão felizes em pagar. Quero que me assegure... Que Nazarick irá poder retornar.


- Mesmo que demore?
- Mesmo que leve séculos!!! 
- Seu pedido.. - Yuuko olhou mais uma última vez para Ainz, com uma expressão de tristeza - é concedido.


Quando piscou novamente, era mais uma vez a ossada. O céu era o de Valkaria, azul e limpo. Yuuko estava com suas roupas intrincadas e olhava para Bones com interesse.

A bruxa sorriu, vendo que Bones havia entendido parte do que ocorrera no passado. 

- Sim, podemos. - Levantando-se, fez sinal para que Bones a acompanhasse. 

Seguiram pela varanda até uma porta corrediça de papel. Entrando na casa, forrada de tatame, Yuuko seguiu até uma porta de madeira a qual levava a uma escada. 
Embaixo da casa havia um enorme porão, iluminado por pequenas chamas azuis flutuando no teto, que não emitiam calor algum. 

Era um verdadeiro depósito de relíquias. Itens mágicos dos mais variados, entre os que mais chamaram a atenção: uma tapeçaria cujos desenhos se mexiam, um baralho muito interessante de cartas e um aquário onde havia uma cidade aquática inteira dentro. 

Yuuko andou pelas prateleiras e mesas. Estava tudo limpo e bem acondicionado. Chegando à parte de livros, apanhou um livro em especial. Tinha a capa preta, sem símbolo nenhum. Suas páginas estavam em branco. 
 - Este livro é capaz de dar de volta poderes perdidos, seja por memória ou por vidas passadas. Acredito que vá funcionar no seu caso. Contudo, ele só ensina aquilo que o usuário já está em condições de aprender, portanto você só aprenderá à medida que se tornar mais forte, ou mais experiente. 

Yuuko entregou o livro a Bones e, ainda com seu costumeiro sorriso, mostrou a palma da mão:
- A jóia da mulher de gelo. Esse é seu preço, para este livro. - disse sorrindo.

A dona da loja apanhou a pedra na mão e, sem tirar os olhos de Bones, a colocou no lugar onde, antes, estava o livro. 

- Não importa o que ela faz. Só sei quem irá vir comprá-la, e não será você. Só sei o que um item faz quando o cliente chega para comprá-lo, mas posso lhe dizer o que esta esfera faz quando for a hora, se sua curiosidade ainda for grande.

Disse em tom divertido.
- Cada item aqui tem um dono, apenas esperando o momento certo para vir adquirí-lo. Não tenho monotonia neste serviço, como pode imaginar.

A campainha tocou, um som de sinos suave. Yuuko disse, logo em seguida:
- É para você.

Bones subiu a escadaria e seguiu pelo caminho de onde viera acompanhado de Yuuko. 

Ao chegar na varanda, pôde avistar o ser que tocava a campainha. Era um senhor de cabelos alvos, barba e bigode bem afeitados, usava trajes sociais impecáveis, luvas e uma postura ereta.
Assim que a ossada apareceu na varanda, os olhos do homem se voltaram para ele. 

Oh, então não estava enganado, graças aos céus. Mestre, o senhor estava mesmo aqui. 

O homem se aproximou e, diferente dos outros guardiões, curvou-se com a mão sobre o meio do corpo.
 Não imagina como estou agradecido por vê-lo, finalmente, lord Ainz. 


Yuuko logo aparecia atrás de Bones e retomava seu lugar sentada na varanda, tomando seu sake. 
- Em resposta ao seu pedido lá embaixo, pode ficar aqui o tempo que precisar. Duvido que será incomodado.

Ao chegar na porta, uma excelente surpresa agraciou sua vista, pois inesperadamente outro guardião apareceu, dessa vez ele vindo a seu encontro.

- Sebas??? Como soube que estava aqui? Tenho procurado vocês por todo o continente... Ja encontrei outros, em breve retornaremos para Nazarick, apenas peço um pouco mais de paciência, pois preciso antes ler algo importante. Grato pela Gentileza, senhorita.

Disse ele ao final fazendo um aceno com a cabeça, em respeito.

Não perdeu tempo, procurou um local que pudesse ficar um pouco mais tranquilo para ler e então iria ver o que o livro poderia revelar. Uma vez terminado, iria guarda-lo novamente em seu inventário.

- A quanto tempo esta desperto, Sebas? Suas memórias, como estão? Ainda precisa resolver algum assunto na cidade ou podemos partir?

Perguntou ele, de praxe e para sondar se não havia algum assunto pendente ali do guardião.

Sebas era o mordomo chefe de Nazarick. 
Apesar de não ser um guardião, seu poder e responsabilidades não eram menores. 

Responsável pela manutenção de Nazarick, era também sua última linha de defesa por assim dizer, mas também era um dos mais hábeis em reconhecimento e patrulha. Assim que seu amo achou um lugar tranquilo para ler, o mordomo colocou-se atrás de Bones, em sua postura impecável.
Estou desperto há muito tempo, mestre, porém sem qualquer memória de meu passado.... Até 24h atrás. Tudo me voltou à memória: meu nome, minha função, minha casa, meus companheiros e meu lorde. Lamento não ter podido estar a seu lado antes. 

Com uma reverência, Sebas foi incisivo.
Não há nada que eu possa querer fazer por aqui que possa me impedir de voltar à nossa querida Nazarick. Como o grande soberano afirmou com tanta eloquência, temos muito o que fazer. 

E Bones sabia que tinham. Conforme Sebas ia conversando com ele, lembrava-se do mordomo sempre acompanhado de mais sete figuras.
Fico feliz em saber que já temos quase todos os companheiros despertos, só lamento não ter sido de muita ajuda. Comprometo-me a ser mais útil daqui para adiante, grande mestre. Poderia oferecer meus serviços para procurar pelos remanescentes? 

Conforme o mordomo foi falando, acabou fazendo algumas especulações  pois se estava acordado a mais tempo, poderia significar que apenas os guardiões oficiais haviam sido selados, tendo ele sobrevivido por conta própria  mas todos sem exceção perderam as memórias.

A proposta dele ajudar a encontrar os outros era excelente, tendo algo em mente se não falhasse as memórias  

- Lembro-me vagamente que com você existiam sempre por perto outros 7. Se não conseguir encontrá-los, então ao menos consiga substitutos de valor. Deixarei isso com você para ajudá-lo em seu retorno.

Disse ele entregando o anel de Nazarick para ele, uma vez que o livro havia tornado desnecessário o anel para si. Com isso, esperava que o mordomo ajudasse a diminuir pela metade o tempo de busca e logo facilitasse a reconstrução.

Sebas recebeu o anel com reverência. 
- Como queira, milorde. Acharei figuras valorosas dignas da grande Nazarick.

Assim que o mordomo tentou voltar a Nazarick, não conseguiu. Desta vez, Yuuko interrompeu. 
- Magias de teleporte não funcionam, seja em minha loja ou no terreno de Valkaria. Muitos campos de proteção mágica. - Explicou, como se fosse simples assim. 

Sebas se dirigiu à mulher.
- Seria possível uma vez em queda livre? - sim... ele pensava em se jogar e usar o anel uma vez que estivesse caindo.

- Lamento... -respondeu Yuuko, acenando negativamente com a cabeça. - A fim de evitar suicidas e dejetos jogados lá embaixo, isto também não é permitido. Caso tente se jogar, será atingido por um forte campo mágico. Acredito que, estando em uma nave rúnica, já seja o suficiente.

- Pois assim o farei. Agradeço as explicações.

Yuuko sorriu para Sebas e se voltou a Bones.
- - Acredito que isto seja um "até logo".

Yuuko retribuiu a educação de Bones com um sorriso.

- Nos veremos então. - Foram as palavras da mulher. - Vou saber quando lhe pagar uma visita, não se preocupe.


Sebas também se despediu com uma reverência e seguiu com Bones.
A dona da loja de pedidos ficou observando os dois se afastarem rua abaixo, em direção ao porto. 

Dando mais uma baforada em seu kiseru, Yuuko olhou o copo de sake no chão da varanda. Estava trincado.
- Antes tarde... do que nunca. - foi seu comentário.