[Campanha Exclusiva: Hans] O filho do rei - Parte I: Sucessão.

Carta de Jules escreveu:Hans,

Soube que em breve terminará seus estudos. Pegue a nave rúnica para o Vale dos Ventos.
Conversamos sobre isto em pessoa, em alguns dias.  
 
Aguarde na pousada da Tya.  

Jules

PS: Mantenha a cabeça no lugar.

GM escreveu:A carta de Jules havia chego no dia das formalidades de encerramento de curso.
Borsch havia carregado seus discípulos para um bar e a grande maioria tinha ficado de "molho no vinho" até o dia seguinte. Kalysta havia comparecido também, bebendo igualmente o tanto que Borsch, mas sem perder a elegância. 
Quem não bebeu e apagou pôde acompanhar a professora, enquanto esta carregava os alunos em uma carroça, mas Borsch foi arrastado de bunda até a escola.
Hans ainda precisou esperar por dois dias, até que Valkaria estivesse próxima do Vale e houvessem naves rúnicas para terra firme disponíveis.

Kalysta e Borsch vieram se despedir do rapaz, no porto de Valkaria.

Borsch escreveu:- Rapaz, sentirei falta de nossas brigas... e de tentar lhe cortar ao meio. HAHAHAHAHHA

O anão dizia isso e batia com ânimo nas costas do aluno.

Kalysta escreveu:- Fico feliz que todos estejam indo embora. Desta forma Borsch pode párar de comemorar o encerramento do ano e voltar a trabalhar sóbrio.

Borsch escreveu:Aqui o anão olhou sério para Kalysta.

- Kal. É sério. Da próxima vez, pode POR FAVOR me pôr na carroça? Minha bunda não aguenta mais atrito.

Kalysta escreveu:Ignorando completamente o anão, e com um sorriso no mínimo diabólico no rosto, Kalysta apertou a mão de Hans.
- Boa sorte, Hans. Mande notícias. 
Seu olhar era de orgulho, mas também um pouco preocupada. Aqueles meninos, que haviam entrado nos esgotos no começo do ano letivo - e tinham pago por isso lavando panelas e ajudando os calouros-; agora voltavam a terra firme. 
Ao soltar a mão do rapaz, uma pequena trouxinha em tecido.
- Quando chegar em terra firme leve um tempo para ler as instruções e use apenas quando precisar. 
Aqui a expressão da professora ficou séria.
- Cuidado lá embaixo. Prevejo uma mudança de ares.

Borsch escreveu:O anão pulou, agarrando Hans em um abraço completamente desengonçado. Ele AINDA cheirava a álcool.

- Boa sorte rapaz! HAHÁ! Mudança de ares o escambau! Quando for a Kjeldor, avise! Vou te apresentar a família e podemos tirar uma disputa amigável. Quero ouvir o que você vai fazer lá embaixo.

GM escreveu:Os professores se despediram e voltaram para a academia. 
A nave de Hans partiu em 15 minutos, apinhada de mercadorias e com poucos passageiros.
Por quase 30 minutos, a nave apenas deslizou pelas nuvens, como se estas fossem a água do mar, espumada e branca. Em dado momento, todos sentiram a descida da nau e tudo o que se pôde ver foi o branco das nuvens. A capitã gritou a todos que fossem para dentro das cabines, pois pegariam mau tempo. 

Muitos não entenderam o "mau tempo". Tudo o que se via era o branco das nuvens, nada mais.
Branco este que se tornou cinza... e depois preto.

Assim que saíram das nuvens, a chuva os acertou com violência e intensidade. O barulhos dos pés no convés e os comandos da capitã eram ouvidos sem cessar. Apesar disso, ninguém da tripulação parecia preocupado. 
Das janelas das cabines, os poucos passageiros podiam ver, ao longe no horizonte, alguns "chapéus" da imensa floresta de cogumelos, mais aparentes quando algum relâmpago irrompia nos céus. 
A cidade do Vale estava logo abaixo e demoraram boas 3 horas para conseguirem chegar. 

A nave aportou com um sonoro baque e logo pessoas da terra firme apanhavam as cordas e ajudavam a descer as escadas. As mercadorias íam sendo descarregadas com rapidez e sem muita questão da chuva.

Não havia como não se enxarcar. Aquela chuva deixaria qualquer um ensopado com apenas dois minutos.

Hans notou que, ao lado de onde o barco aportara, havia um urso. Seria um urso? Não. Era uma pessoa, gigante, tal qual uma porta. Mas tinha orelhas de urso, pêlo de urso e barriga de urso. Estava encharcado como um urso... e infeliz como um urso. Estava só de calças e isto era a única coisa que lhe dava um quê mais civilizado. Nas enormes mãos, apenas uma ridícula plaquinha escrito "HnsS" em uma letra rudimentar, com a tinta sendo apagada pelas pesadas gotas de chuva. 

GM escreveu:
O homem urso parecia estar dormindo, pois seus olhos eram duas fendas em seu rosto felpudo e encharcado, mas assim que Hans lhe dirigiu a palavra o urso virou sua cabeça em sua direção. Ele era alto então se encurvou um pouco quando o rapaz lhe dirigiu a palavra.

Assim que entendeu a pergunta, balançou afirmativamente, chacoalhando pêlo e água, e apontou para uma construção a alguns metros dali, com as luzes acesas, visíveis mesmo com a chuva.
Permaneceu com a plaquinha, olhando todos os que desembarcavam da nave.

A cidade do Vale dos Ventos podia ser vista ao fundo, mas apenas sua silhueta, o contorno dos telhados em contraste com céu escuro, as luzes embaçadas e os moinhos gigantes que rangiam com a força do vento.

Nota da GM:

GM escreveu:Com a pergunta o urso, novamente, voltou seu rosto molhado pingando para Hans. Abrindo apenas os lábios, mostrando os pontudos dentes, o urso pronunciou a palavra que estava escrita na placa - ou que ele achava que estava escrita, soltando um vapor de ar quente pela boca no ar que começava a ficar gelado.

- HÁ-ãsssss. - Com alguns "s" a mais, nasalado, bem mais roncado do que Hans estava acostumado, mas sim... parecia o nome dele. Aparentemente, as palavras não eram o seu forte... e nem a lógica, intuição, raciocínio rápido entre outras coisas, pois o urso voltou a olhar as últimas pessoas que saíam da embarcação.

Vendo que a última saíra, o urso começou a olhar em volta. Distraidamente, coçou as partes traseiras das calças com uma das enormes patas. Soltando um grunhido de insatisfação, voltou à sua posição inicial de espera, com a plaquinha erguida.

GM escreveu:Quando Hans pegou a placa do homem urso, o mesmo apenas grunhiu, fechando o cenho cabeludo e esperou o rapaz ler. Assim que terminou o urso arrancou de volta a plaquinha, olhando para a mesma e tentando enxugar um pouco a água, talvez salvar as letras - mas só piorou tudo.

Novamente aquele rapaz lhe dirigia a palavra "Hey, grandalhão, de onde você veio?" foi o que dizia o rapaz. O urso franziu novamente o sobrolho e cruzou os braços, com a plaquinha mediocremente sob uma das axilas.  

Ficou assim um bom tempo...Até que Hans percebeu. Ele estava tomando a pergunta de Hans como uma questão filosófica e, talvez, se perguntando de onde teria vindo e qual era seu lugar no mundo, pois não respondeu.

Graças aos céus, Hans quebrou o silêncio com outra pergunta: Estás segurando algo bem parecido com o meu nome, não? 
Pela primeira vez aquele ser mostrava seus olhos, que se arregalaram e a boca se encrispou em um sorriso com, no mínimo, uns quarenta dentes. Qualquer um que visse a cena, sem uma explicação de seu contexto, veria um animal enorme com a boa encrispada ferozmente, pronto para atacar um rapaz recém-chegado na cidade. 

O homem apontava para Hans, depois para a plaquinha, depois para Hans, e balançava a cabeça para cima e para baixo.

Com uma naturalidade e força violentas, o urso atirou a plaquinha pelo ar - a pobre saiu voando e zunindo, dispersando círculos de água para os lados até sumir de vista.
O urso se colocou atrás de Hans e foi dando tapinhas nas costas do rapaz, como que para levá-lo a uma direção em especial. Todas as perguntas de Hans eram respondidas com grunhidos, gestos e o constante apontar para a construção de antes. 
Não andaram muito e chegaram a um belo estabelecimento. Havia uma placa onde Hans pôde ler, apesar da chuva, "Tya".Assim que entraram, o calor e a iluminação os atingiram como uma benção. Lá era seco, quente e cheirava a pão recém assado. 

Era um grande espaço aberto, com o pé direito alto e um lindo candelabro no centro do telhado, de onde vinha uma iluminação agradável. As janelas eram grandes e as cortinas estavam abertas. A chuva agora era meramente o som das gotas e do vento na madeira. 

Haviam apenas 3 mesas redondas, próximas das janelas, com 5 cadeiras cada. Um grande tapete cobria o saguão e uma crepitante lareira aquecia o recinto. 
Logo à frente da porta, um balcão com a frente tomada de bancos de bar. Atrás do mesmo, uma prateleira com diversas garrafas de bebidas alcóolicas. À direita, uma porta denunciava a cozinha. 
Havia uma escadaria ao lado da lareira que levava ao nível superior onde, imagina-se, estariam os quartos. 

Não havia ninguém a esta hora, a não ser um ser envolto em um manto puído que roncava em uma mesa, com uma enorme caneca vazia à sua frente.

Atrás do balcão estava uma halfling rechonchuda, com cabelos muito negros e uma feição amistosa. Assim que viu Hans e o homem urso, ela abriu um sorriso de orelha a orelha, formando covinhas em suas bochechas.

- Ahá!! Você o encontrou, Babu! - Ao ouvir o nome, o homem urso balançou a cabeça animadamente para cima e para baixo e apontava para Hans, orgulhoso, espalhando grossas gotas de água no processo - Estavam demorando tanto que achei que tinham se perdido. Sou a Tya, meu querido, bem vindo. Olhe como está ensopado. 
A halfling falava como as mães geralmente falam para os filhos que voltam da guerra. Enquanto falava, sumiu por trás do balcão e o som de coisas se mexendo em prateleiras acompanhou suas palavras.
- Agora tudo vai ficar bem, você vai ver, só precisa de um bom banho quente, uma comida quente e um bom descanso, sim senhor. Isso é o que precisa. Hans, não é? Vai adorar ficar aqui Hans. 

Saindo por detrás do balcão, ela se aproximou dos dois com toalhas caprichosamente enroladas. A halfling usava um vestido verde claro com um avental cheio de marcas. Assim que cada um pegou a sua, Tya voltou para atrás do balcão e começou a fechar portas. 
- Vou checar como estamos na cozinha e já trago algo quente para comerem. 

Realmente, a única refeição que Hans tinha comido tinha sido na Academia, há algumas horas atrás. Já devia ser hora do almoço, ou algo perto disso. 

Ao desenrolar sua toalha, Hans sentiria o cheiro de lavanda fresca e sabão. Reconfortante. Era uma toalha enorme, felpuda e grossa, Hans poderia se enrolar com ela, por ora, até ir ao quarto se trocar.
Se virasse para fitar Babu, veria o urso com a mesma expressão neutra de antes, com uma toalha que mais era um lenço em cima de sua enorme cabeça (provavelmente, Tya havia pego uma toalha de rosto por engano). Pingando, o urso andou preguiçosamente até a frente da lareira e sentou com um baque seco no chão, mirando o fogo. A "toalha" em sua cabeça logo se encharcou e começou a pingar, tal qual o restante do homem.

Tya escreveu:A halfling voltara da cozinha com uma bandeja cheia de pães recheados. Colocando sobre o balcão, deu um sorriso amistoso a Hans.
- Pode atacar rapaz. Coma a vontade. Jules me deu ordens explícitas para cuidar de você, e é isso que a velha Tya aqui vai fazer. Sim senhor. Ele deve chegar hoje à noite... mais tardar amanhã cedo. Disse para você ficar a vontade que tudo estava muito bem acertado. Ele virá aqui assim que chegar. Você chegou em boa hora. Agora, não temos muito movimento, mas daqui a algumas horas, rapaz, este lugar vai ficar apinhado.

Pegando um pão com recheio de carne, a estalajadeira assoviou e chamou: Babu! - atirando o pão em seguida. 

Babu não respondeu apenas virou a cabeça e abriu a boca, apanhando o pão e mastigando contente, voltando seu olhar para o fogo, com os olhos semi cerrados. 

- Espero que Babu tenha sido gentil com você. Ele não fala muito bem, sabe? Jules deu a ordem a ele mas... ahn... acho que ele esqueceu que Babu também não sabe ler ou escrever. Agora me diga. Você precisa de alguma coisa, meu bem?
Perguntando isso, a Halfling apoiou a redonda cara em uma das mãos enquanto fitava Hans com os olhos castalho avelã.

Tya e Babu escreveu:A halfling literalmente parecia uma mãe que recebeu um filho pródigo. As palavras educadas de Hans eram como sinos e a rechonchuda dona da pousada só alargava o sorriso. 

- Ora! Trabalho nenhum. Trabalho nenhum. Jules é muito querido por aqui, sabe? Apesar do jeito sério, eu sempre disse que ele era um doce por trás daquela cara carrancuda.... e por trás das palavras secas... e do mau humor ocasional.

Aqui o homem urso Babu fez um barulho que Hans podia jurar que se parecia com uma curta risada, mas talvez fosse apenas um rosnado e sua imaginação estava a lhe pregar peças após tanta chuva e frio.

Assim que o rapaz mencionou roupas e bagagem, Tya pareceu se espertar, tirando o apoio das mãos do rosto e voltando a se movimentar, tal qual uma bolinha quicando, fazendo os babados do vestido pularem.
- Ah meus céus! Claro! Um jovem vindo da chuva precisa de um banho... e trocar de roupa também. 

Ao descer do banquinho, voltou um olhar a Babu. 
- Babu! Quarto 3! Pode levar as malas dele, querido? Por favor? Vou ligar a caldeira para a água do banho.

A caminho da porta que levava aos fundos, Tya deu um meio sorriso a Babu:
- Quando voltar pode comer o resto dos pães. Eu fiz um pouco a mais para pagar pelos seus serviços na chuva hoje. - E assim o kuma abriu o mais largo sorriso cheio de dentes que Hans poderia lembrar. Voltando o olhar amigável a Hans, Tya prosseguiu - Coma a votade e depois pode seguir para seu quarto, quando quiser. Babu vai ajeitar as coisas. - dito isto, sumiu pela porta.

Levantando-se de um salto, e fazendo o piso de madeira ranger com seu peso, Babu foi dando saltinhos até a bagagem do rapaz. Apanhando a mala como se esta fosse feita de papel, Babu se dirigiu com a bagagem até as escadas, subindo ainda com pulos que testavam a dureza das tábuas de madeira. 

GM escreveu:Quando se sentisse a vontade, Hans poderia subir as escadas da pousada em direção aos quartos. Não haviam muitos, apenas dez portas enfileiradas no corredor.
A terceira porta estaria aberta. Babu deixara sua bagagem aos pés da cama e retirava as toalhas e cobertores de um enorme armário de madeira escura. 
O quarto era simples. Uma janela com vista para o Vale dos Ventos. Por conta da chuva, a paisagem era escura e enegrecida, mas devia ser belíssima em um dia de sol.
Uma cama de solteiro com lençóis branquíssimos e um fofo travesseiro ornavam o meio do quarto, ladeada por duas mesinhas de cabeceira. Havia uma escrivaninha com cadeira ao lado da porta e o armário onde Hans poderia guardar suas roupas. Havia também um espelho oval de corpo inteiro.

O banheiro contava com pia, toalete e uma banheira. Logo acima e ao lado da banheira, havia uma cordinha de couro, com a ponta enfeitada em fios vermelhos formando uma franja. Assim que Hans entrasse Babu faria sinal para que viesse. Mostrando ao rapaz como se fazia para se ter água, era só puxar a corda uma vez e uma das tábuas da parede desceria vagarosamente, com um leve barulho de engrenagens e revelando um cano. Mais uma puxada da corda e, do cano que acabara de ser descido, água quente iria fluir até a banheira. Com dois puxões seguidos, a água pararia e o cano volta ao lugar. 

Fazendo um gesto de "tchauzinho" para Hans, Babu se despediria e sairia do quarto, fechando a porta atrás de si.

GM escreveu:O ambiente aconchegante e o estômago cheio embalam Hans em um sono profundo. 

Aos poucos, o som de música começa a chegar aos seus ouvidos. É um som delicioso, calmo, porém alegre, vindo do térreo da pousada, juntamente com o som de canecas brindando e conversas animadas. 
Olhando para fora da janela, Hans poderia ver o céu estrelado. Ele havia dormido a tarde toda, e agora deveria ser o início da noite. A vista do Vale agora era mais nítida: Várias casas com luzes ainda acesas, enormes moinhos de vento que ainda pingavam após a chuva, pessoas caminhando pelas ruas com lanternas nas mãos. As montanhas ao longe pareciam uma muralha que ladeava a cidade, sendo interrompidas apenas pela vista do mar ao longe. 

Ao decidir sair do quarto, Hans será apanhado pelo cheiro de cerveja e carne assada. Logo do alto de seu quarto ele pode ver que a pousada da Tya está lotada. As mesas estão cheias, mas no balcão há apenas um cliente. 
Ao lado da lareira um pequeno palco fora montado. 

Tya estava servindo as mesas, carregando uma bandeja redonda cheia de canecas, pratos e garrafas. Todas as mesas estavam ocupadas por homens fortes, com barbas e bigodes de todos os formatos e cores. As ferramentas apoiadas na parede e suas roupas manchadas denunciavam que deviam ser fazendeiros ou trabalhadores da cidade.

O único cliente sentado no bar era baixinho, podendo quase ser confundido com um anão, mas a falta da barba negava essa possibilidade. Contudo, um enorme bigode branco escondia sua boca, que tomava goladas de uma enorme caneca de cerveja. Em sua cintura, uma espada curta presa ao cinto.

No palco, uma elfa de cabelos avermelhados, ondulados e compridos tocava um alaúde, enquanto cantava em uma língua que Hans não soube decifrar. Sua roupa era simples, suas feições arredondadas e delicadas, e seus olhos eram de um verde floresta. Obviamente os olhos dos clientes estavam todos nela enquanto cantava.

GM escreveu:Com o fim da canção, todos se puseram a aplaudir. 
A elfa agradeceu com uma reverência e se levantou do banquinho onde estava sentada, apoiando seu instrumento de cordas cuidadosamente no mesmo.
Dirigindo-se ao bar, esperou Tya voltar com uma bandeja vazia e se dirigiu à halfling. 
- Tya... Que tal um pouco de água? Acho que vou fazer meu intervalo agora, se não se importa. 

A halfling dirigiu um olhar sorridente à elfa:
-Claro que não, Sammira, querida. Você manda! Vou pedir já o seu jantar. HANS! - disse a dona da pousada ao ver o rapaz. - Espero que tenha descansado bem! Pronto para uma jantinha?

Sem esperar a resposta do jovem, Tya gritou na direção da única porta atrás do balcão.
- BABU! Ba - BU!

O kuma enorme, ameaçador e musculoso que apareceu não combinava com o paninho amarrado sobre sua cabeça e o minúsculo avental, branco com margaridas, amarrado acima de sua cintura. Babu segurava uma espátula engordurada e, com sua figura, o cheiro de carne e fritura da cozinha.

- A janta de Sammira e algo para o Hans, querido. E preciso de outro barril. Pode pegar nos fundos? Depois disso pode vir aqui e eu lavarei a louça. 

Babu respondeu com um resmungo qualquer e voltou para a cozinha. Tya ia dizer algo mas viu uma mão levantada em uma das mesas e logo correu para atender.

Sammira, a elfa, sentou-se ao lado de Hans, mirando o rapaz de cima a baixo, com um sorriso simpático no rosto.
- Hans? Nunca o vi por aqui, e olha que trabalho com Tya há algum tempo. É um viajante ou novo morador desta região?

Babu voltara da cozinha com uma bandeja em uma das mãos e um enorme barril embaixo do outro braço. Deixando o barril de lado, serviu a Hans um prato de carne, batatas e legumes. Na frente da elfa, colocou uma caneca de água e uma tigela apenas com legumes. 
O kuma permaneceu atrás do balcão, olhando Tya servir as mesas. 

GM escreveu:Tya mostrou puro gosto em ouvir os elogios de Hans. Assim que terminou de servir as mesas, pegou o avental e o pano de Babu e se dirigiu à cozinha, cantarolando.

Quando foi lhe dirigida a palavra, Babu apenas resmungou algo e fez um gesto a Hans como que "mexendo um caldeirão" e depois levantou as mãos como se algo explodisse... mas Hans não saberia dizer. 

A elfa sorriu com a polidez de Hans e agradeceu Babu pela refeição. Com certeza ele não era dali, mas ela preferiu esperar pela resposta. 
- Logo se vê. Os modos são mais refinados na capital humana. O idioma que ouviu é Élfico de Alihanna, minha língua mãe. Apesar de falarmos a língua comum, temos nosso próprio idioma antigo, que usamos entre nós. Os elfos do deserto têm o deles e os drows também. Caso vá a Lórien, vai ouvir muito nas ruas. 

Bebericou um pouco de sua água e espetou um brocoli com o garfo.
- Não como carne, a maioria dos elfos da floresta também não. Temos o bastante da natureza sem precisar matar nada. 

Após comer, voltou-se ao menino. 
- Então é amigo de Jules? Topei com ele algumas vezes aqui na pousada, um pouco sério, mas parece ser alguém muito bondoso.

Um dos homens sentado à mesa grita: - Hey! Sam! Cante aquela dos lobos! Aquela da camponesa fugindo dos lobos!

A elfa se virou para o homem e lançou um sorriso tão magnífico que todos na mesa se calaram. Hans conviveu um bom tempo com Kalysta para saber que aquele sorriso com certeza era muito mais do que pura expressão facial.
- Mas é claro. Assim que terminar minha refeição, cantarei o pedido de vocês.

Os homens na mesa se ruborizaram e riram entre si, como se fossem colegiais que acabaram de conversar com o senpai. Sammira deu uma piscadela a Hans e voltou a comer seus legumes.

Babu continuava a olhar as mesas, vez ou outra coçando as calças ou fungando o enorme nariz.
- Já fez amizade com Babu, eu estou vendo. - disse a elfa, como se tivesse visto algo que, com certeza, Hans não vira. Assim que Sam terminou de falar, Babu fechou a cara e deu um grunhido.
- Ora, Babu, não se irrite tanto. Estou falando a verdade e não é nada demais. Posso ver que você gostou do rapaz. Faz sentido, ele sendo amigo de Jules e tudo mais.
O kuma cruzou os braços e encarou a porta da cozinha, com o cenho franzido. A elfa pareceu se divertir com a atitude do homem urso.

GM escreveu:A elfa continuou a comer, enquanto ouvia os argumentos do jovem rapaz. Eram argumentos válidos, mas a idade da elfa já lhe tinha rendido a convicção de seus valores e crenças. Mesmo assim, ouviu aquelas palavras e respondeu com delicadeza. 
- Isso é verdade. A natureza sabe o que faz. Já houve uma época em que apreciava o sabor... mas depois de uma certa idade... - deu de ombros - acho que perdeu a graça. 

Terminando sua refeição, deixou os talheres de lado e logo Babu recolheu tudo para levar à cozinha. Sammira ouviu a pergunta de Hans e, certificando-se de que o kuma ainda estava na cozinha, disse a Hans em voz baixa.

- Uma vez... Jules topou com um grupo chamado Sandimas. Eles... roubam criaturas, humanóides ou não, e os vendem para quem quiser comprar. Babu era... uma mercadoria. - Afastando-se um pouco, olhou Hans nos olhos com uma expressão séria. - Aparentemente, ele seria como uma besta para atrações. Parece que eles têm uma arena além mar. Estava mal. Judiado. Torturado. Jules o trouxe para cá e.... levou muito tempo para que se acalmasse e pudesse.... conviver com outras pessoas de novo. Ele não fala muito bem e não sabemos detalhes de nada, só que deve ter sofrido muito nas mãos dos bandidos. Acabou criando um laço de confiança com Jules, sabe?

Assim que Babu voltou, a elfa já estava de volta à sua postura ereta no banco. 
- Bem... vou voltar ao espetáculo. 

Dizendo isso, Sammira voltou ao banco e apanhou seu alaúde. Sentando-se, dedilhou um pouco e todos fizeram silêncio para a música que viria. 

GM escreveu:Assim que a música terminou podia-se apenas ouvir o fungar de alguns fazendeiros que choravam com a melodia cantada. 

Hans notou mais alguém fungando. 
Era Babu. Mas ele não estava emocionado, tampouco chorando. Estava farejando. O rapaz também viu quando um pequeno rosnado saiu de sua garganta e seu lábio superior se encrispou mostrando uma porção de seus dentes, mas ninguém mais notou pois estavam ocupados em aplaudir a elfa e pedir outra canção. 

Ninguém também notou que o kuma saiu da estalagem com a postura arqueada e uma expressão de poucos amigos.

GM escreveu:Quando Hans saiu da estalagem, pôde ver o kuma do lado esquerdo da porta, com o nariz pra cima. 

Se Hans questionasse alguma coisa, Babu só responderia com um curto grunhido, deixando o rapaz para interpretar o que quisesse. 

O kuma parecia estar farejando algo e continuou andando paralelo à parede da estalagem, virando à esquerda. 

Ali, entre a estalagem e algo que Hans logo determinou como estábulos ou talvez um celeiro, havia um escuro beco sem saída. O som das conversas e palmas dentro da estalagem ainda podiam ser ouvidos, mas abafados. Hans pôde ver janelas quadradas com pequenos vidros, fechadas, que davam para a cozinha, e pôde ver Tya lavando uma pilha de louças. Encostados na parede, haviam barris, caixas de madeira e um enorme tonel que provavelmente servia de lixo, pois o cheiro denunciava. A luz era fraca, vinda apenas das janelas, mas já denotava que o beco estava vazio, a não ser pelo lixo e talvez ratos.  

Babu se enfiou beco adentro, devagar e parou a dois passos. 

- Jullls... - resmungou o kuma, em uma voz arrastada, ainda olhando para dentro do beco como se estivesse procurando algo. 

Antes que Hans pudesse sequer perguntar algo, uma adaga veio voando do breu escuro, bem na direção do rosto de Babu. Com um rosnado, o Kuma bateu a enorme mão a tempo de bloquear o ataque e jogar a adaga no chão. Um filete fino de sangue escorreu de sua mão esquerda, mas ele não pareceu se importar. Os pêlos de seu pescoço e nuca se eriçaram e sua boca se encrispou totalmente mostrando os dentes, mas não rosnou. Permaneceu à frente de Hans com os braços abertos e os olhos fixos em um ponto ao fundo do beco, sem piscar. 

Não se via nada no beco, somente sombras.

GM escreveu:O silêncio do beco contrastava com os barulhos da cozinha ao fundo. Tya estava cantarolando. Na estalagem Sammira devia ter começado outra canção, esta mais animada. As botas batiam no chão alegres, seguindo o ritmo.

Babu não piscava.

Hans não podia ver nada além das sombras normais de qualquer beco.

O tempo se arrastou como horas, mas nem um minuto inteiro se passara.

Dois novos projéteis voaram e acertaram os dois ali parados. Uma adaga se cravou no ombro esquerdo de Babu. Outra, passou de raspão causando um corte no ombre direito de Hans.

Logo após os projéteis terem acertado os dois, o som de passos claramente se aproximando.

Babu arrancou a adaga do ombro e se jogou para frente com os dois enormes braços. Qualquer um diria que seu ataque errou de longe....

Apesar de ter se sujado de lama no processo, Hans agora podia ver uma perna enlameada, a dois passos de distância de ambos. Se havia uma perna, o corpo não devia estar longe.

Babu agora estava rosnando.

GM escreveu:O golpe de Hans havia cortado o nada, mas ele podia ter certeza que sentiu uma lufada de vento conforme a pessoa - ou o que quer que fosse - tinha se desviado. 

Um ataque veio do inimigo invisível, mas Hans o bloqueou.

Babu se levantou e sacudiu a lama dos braços. Pegou um dos barris e tentou atirar na perna, mas esta se esquivou.

Uma voz chiada falou com os dois.
- Se forem embora agora, não os mato. Estão se metendo onde não são chamados.

Babu rosnou e repetiu.
- Julls! 

A voz se calou e adotou um tom sarcástico.
- Aaah....  então é amigo dele? - uma risadinha debochada, fora seguida por um tom ameaçador. - Então vou fazer questão de continuar.

GM escreveu:O ataque de Hans havia acertado. Sentiu isso na espada, na sensação de cortar carne e também no sangue que jorrou. Tinha conseguido uma boa fatia também. 

Ao mesmo tempo, Babu abaixava suas garras de cima a baixo, fazendo marcas no ar que marcariam também o visitante invisível. 
Mais sangue manchou o chão, mas somente o sangue que jorrava era visto. Não se via nada do sangue nas roupas de quem quer que estivesse atacando. 

A voz não estava mais tão animada.
-  M-Malditos... - disse.

Uma lufada de vento em direção a Hans e um ataque, acertando-lhe o corpo em cheio. Um corte se abriu em seu tórax. Não ver o inimigo era, com certeza, uma desvantagem. 

Spoiler: